DISCOBIOGRAFIA LEGIONÁRIAAutores: Chris Fuscaldo
Editora: Leya Brasil
Artista:
LEGIÃO URBANAAno: 2016
Resenha por
Rodrigo Paulo
Opinião do autor:





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A Legião Urbana durou 14 anos e há 20 encerrou suas atividades após a morte de seu vocalista Renato Russo. Mas nessas últimas duas décadas o que não faltou foi material inédito para os fãs e até uma série de shows com nova formação de integrantes (André Frateschi nos vocais e outros) e cheio de participações especiais para comemorar os 30 anos de lançamento do primeiro disco, também intitulado Legião Urbana. Entre várias gravações ao vivo, coletâneas e discos solo de Renato Russo a jornalista Chris Fuscaldo, responsável pelos textos que acompanharam os relançamentos dos discos da banda em 2010, resolveu trazer parte desses textos para o livro “Discobiografia Legionária”, registro com informações e entrevistas sobre todos os discos oficiais lançados pela banda, além dos textos dos discos solo lançados por Renato.
O livro conta todos os processos da banda e da carreira solo de Renato Russo e traz depoimentos de pessoas que viveram próximas dos integrante da Legião. Em diversos depoimentos o livro narra momentos como a complicada fase do ainda trio formado por Russo, Marcelo Bonfá e Dado Vila Lobos em se adequar a indústria da música em plena ebulição da década “BRock” que quase os fizeram desistir de gravar o seu primeiro álbum em 1984. Mas a série de desentendimentos com os músicos, produtores e com a própria EMI os levaram a conhecer Mayrton Bahia, que além de acalmar os ânimos do trio, viria produzir todos os discos da banda e foi praticamente um quinto elemento da Legião fazendo recortes manuais nas fitas de gravação deixando o som da banda perfeito. Esse período também contribuiu para a entrada de Renato Rocha na banda, após um acidente com gilete que impossibilitou Russo tocar baixo por um tempo.
O livro também conta “a crise do segundo disco” que acometeu o agora quarteto, que não tinham composições definidas para o álbum “Dois” e levou o processo de gravação a durar muito mais tempo que o previsto. E a rapidez para montar o álbum “Que País É Este 1978/1987” quando Renato Russo se preocupou em usar o repertório do Aborto Elétrico, antiga banda liderada por Renato Russo, a fim de evitar que tais músicas fossem gravadas pelo Capital Inicial, que estava despontando no cenário musical na época e tinha Fê e Flavio Lemos, antigos parceiros de Aborto. Essa fase também marca a primeira grande polêmica da banda em shows, no caso o incidente do Estádio Mané Garrincha em Brasília que causou um trauma em Renato Russo.
O processo traumático das composições volta a ser narrado na época das gravações do álbum “As Quatro Estações”, que marca a saída por espontânea pressão de Renato Rocha da banda e uma tentativa inusitada de Renato Russo de cantar todo o repertório a capella para o então presidente da gravadora, que já não acreditava num lançamento da banda para o ano de 1989. Como resultado, vemos um dos discos mais bem sucedidos da banda, com um Renato Russo mais transparente de seus sentimentos e opções bem polêmicas para a época (“Meninos E Meninas” que o diga). A partir desse período o livro narra a mudança drástica sofrida pelo Trovador Solitário, quando diante do vício em drogas descobre ser portador do vírus HIV. E aí nasce o obscuro álbum “V”, mais uma turnê interrompida de forma polêmica e início da parceria com Carlos Trilha, na sequência o álbum “Músicas P/ Acampamentos”, que serviu para dar tempo a recuperação de Renato Russo e a gravação do “Acústico MTV” que por pouco não foi gravado, mas acabou se tornando um dos maiores recordes de venda da banda.
O livro mostra um Renato mais calmo num curto período entre 1993 e 1994, ávido por novos trabalhos, o Trovador inicia uma nova fase com a banda lançando otimista “O Descobrimento do Brasil” e os solos “The Stonewall Celebration Concert”, disco voltado para causas sociais como fome, liberdade de gênero, que expos um Renato Russo bem diferente do vocalista da Legião Urbana em um repertório totalmente em inglês, e “Equilíbrio Distante”, disco em italiano que mostra o processo de Renato em descobrir sua origem italiana, com direito a uma viagem a Itália para pesquisar sobre o repertório e suas origens até descobrir que era descendente de camponeses. Um dos melhores discos do trovador. Esse período também marca o último show da banda, marcado mais uma vez por polêmicas e o trabalho de Dado com o selo RockIt!.
Com a piora de Renato, já em fase terminal da AIDS, o álbum “A Tempestade Ou Livro Dos Dias”, que inicialmente seria um disco duplo, foi gravado as pressas e apenas com a voz guia de Renato, que faleceu poucas semanas após o lançamento do disco que marcou sua despedida e o fim da banda. Mas com tanto material inédito gravado em fitas, foi lançado o álbum “Uma Outra Estação”, que apesar o clima pesado da produção sentida pela ausência de Renato Russo, tem um repertório bem mais suave que o disco anterior e as gravações ao vivo que estavam perdidas em fitas na gravadora como os lançamentos “Como É Que Se Diz Eu Te Amo”, “As Quatro Estações Ao Vivo” e “Legião Urbana e Paralamas Juntos” Já na carreira solo, foram lançados os álbuns póstumos “O Último Solo”, com músicas que não entraram nos dois primeiros discos solo e “Presente” que traz raridades gravadas pelo trovador. Além de “Trovador Solitário” e “Duetos”, ufa!
“Discografia Legionária” é um acervo histórico da Legião Urbana que serve para alimentar mais um pouco a todos os fãs das antigas e novas gerações que sempre buscam conhecer um pouco mais sobre a maior banda de rock dos anos 1980. O texto da Chris, já elogiado nos relançamentos da discografia, da banda se mostra afiado e aliado as entrevistas de Dado Villa Lobos, Marcelo Bonfá, Mayrton Bahia, Carlos Trilha e muitos outros enriquecem a história da Legião Urbana. Urbana Legio Omnia Vincent.
Resenha publicada em 27/12/2016
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