Por Arthur Vilhena
Confira a entrevista realizada com a cantora Branka, onde a mesma comenta a fase atual, fala de seu novo trabalho e conta mais a respeito do repertório que defende, entre outros assuntos não menos interessantes.
Foi na cadência bonita do samba que Karyme Hass, curitibana do pinhão, virou a Branka. Esta, por sua vez, carrega dentro de si a vivência carioca, pois radicou-se no Rio de Janeiro (RJ) há alguns anos: "Foi amor à primeira vista, adorei o movimento! Me encantei com o samba e comecei a compor”, afirma.
A transição para o universo sambístico, de fato, começou em 2012, com o lançamento do disco "Barra da Saia". Produzido por Carlinhos 7 Cordas, que também o dirigiu e selecionou repertório junto a própria artista, representa um recomeço para Karyme.
Iniciando uma trilogia, a cantora e compositora aporta no mercado com "Flores Douradas - A Raiz", EP composto por sete faixas. Como em time que está ganhando não se mexe, o já citado Carlinhos, novamente, assina a produção musical.
Além de assinar quatro das sete canções, Branka ganhou texto caloroso de ninguém menos que Nei Lopes; participação especial de Arlindo Cruz (em "Banho de Mar", dela e Carlinhos) e músicas feitas especialmente para ela cantar, como "Rosário da Dor" (Moacyr Luz) e "Sinherê" (Nei Lopes).
Na entrevista a seguir, Branka comenta a fase atual, fala de seu novo trabalho e conta mais a respeito do repertório que defende, entre outros assuntos não menos interessantes.
Na primeira faixa de seu novo trabalho, o EP "Flores Douradas - A Raiz", o coro infantil me fez pensar no seguinte: por qual motivo as crianças brasileiras sabem quem é Michael Jackson, Madonna, mas desconhecem a existência de Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus?
Na minha infância, lembro que as novelas e rádios tocavam boas canções em sua programação, com poesia e melodia, e que, naquela época, elas já disputavam a duras penas com a música internacional. Hoje, infelizmente, as crianças têm acesso a músicas que visam enaltecer apenas a diversão e a sexualidade, o que é um absurdo! Apesar da Internet ser uma enorme janela do conhecimento, é usada de maneira errada. E na mídia, o audiovisual é o que chama mais a atenção delas, deixando no passado a nossa música. São poucos, mas existem pais que estimulam suas crianças a ouvirem desde cedo a boa de qualidade. Meus pais me apresentaram muita música boa! Acredito nessa solução.
"Clareia" (Norma Acquarone), lembra, na letra, Clara Nunes. Qual sua relação com ela?
Clareia foi composta em homenagem a Clara Nunes. Clara é uma das minhas referências e foi uma representante da boa música no nosso país. Navegava por vários estilos com leveza e alegria, da qual todos sentimos falta! Gravei essa canção depois da Norma (compositora) me contar que teve um sonho: “Entrei num quarto escuro e vi um baú cheio de ouro! Me aproximei e vi que tinha uma pessoa ao meu lado. Era a Clara Nunes, que me disse que tudo o que tinha ali me pertencia. No dia seguinte nasceu Clareia!”
Hoje, você é a Branka. O que ela diria para a Karyme Hass que lançou três discos?
Karyme Hass é meu nome de nascença. Branka é meu nome de renascimento! Estou vivendo o samba e não apenas cantando. Desde pequena, busco em um meio a simplicidade e a alegria. E foi nas rodas de samba que ganhei esse nome e que encontrei o que me foi ensinado na infância: ser verdadeira!
Qual a contribuição de Carlinhos 7 Cordas, que fez a produção musical deste trabalho?
Sempre trabalhei com grandes produtores, mas desde o álbum “Barra da Saia” tenho me surpreendido cada vez mais com o trabalho do Carlinhos. Ele contribui de uma forma ampla, desde repertório, que estudamos juntos, até a instrumentação de cada canção. Muitas vezes, ele deixou de colocar o violão sete cordas na canção, pois queria dar a ela apenas o que era necessário. Ou seja, ele pensa como excelente arranjador que é!
Em "Banho de Mar", parceria sua com Carlinhos 7 Cordas, você recebe a participação especial de Arlindo Cruz. Como surgiu esse convite?
Fui apresentada a Arlindo Cruz em 2013, em Vila Izabel, pelo Carlinhos, e mais tarde cantei com ele no antigo Zozô da Urca. Assim que terminamos de compor Banho de Mar, comentei com o Carlinhos a idéia de colocar o Arlindo pra dividir comigo a canção. Ele achou bacana, falamos com o Arlindo e ele topou!
"Lágrimas de Chuva" (Branka) ganhou um videoclipe. Como foi sua criação?
Lágrimas de Chuva foi a primeira canção a nascer nesse projeto. Ela tem uma mensagem muito especial. Fala de uma alma desencarnada a outra que ainda está cumprindo sua missão, para que não sofra mais a sua ausência e que busque por sua felicidade. A idéia era de interpretar a alma que vai embora e deixa a canção como acalanto. Com a direção de Flávio Saturnino, figurino de Rosane Amora, maquiagem de Duh Nunes e o apoio da minha empresária Ana Muller, tive a felicidade de gravar esse videoclipe.
Radicada no Rio de Janeiro (RJ), você é curitibana. No Paraná, é difícil fazer samba?
Moro aqui no Rio há quase 5 anos, me identifico com a cidade por conta da sua beleza, temperatura e efervescência artística. O Rio de Janeiro é o nascedouro do samba. E por todos os bairros, principalmente os da zona norte, você vê e ouve as rodas de samba e os encontros de compositores da velha guarda e da nova geração. É um movimento. No Paraná, também existe esse movimento, só que em menor proporção, porém muito aquecido e em ascensão. Participo da cena de samba curitibana também e tenho muito orgulho da minha cidade! Dia 06 de dezembro estarei no Quintal da Maria, local cheio de africanidade, apresentando meu novo álbum e cantando os clássicos do samba!