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Confira a nossa entrevista com TAO DO TRIO


Postado em 12/05/2016

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Da Redação

Elas se lançaram por nada mais nada menos que um CD cantando Caetano Veloso e hoje já somam 22 anos de carreira. Marca essa que resume muita conexão, afinidade e amizade. Tudo isso justifica o respeito que o Tao do Trio recebe do público, seja ele curitibano, como o trio, ou de fora. Estamos falando de trabalho vocal delicado, cuidado minuciosamente, que privilegia belíssimas interpretações de cantoras que remetem as damas da MPB.


O Tao do Trio foi formado inicialmente pelas amigas Cristina Lemos, Helena Bel e Suzie Franco, a primeira do interior de SP, a segunda de Curitiba e a terceira gaúcha. No início da década de 90, na Faculdade de Artes do Paraná, depois da passagem por alguns grupos, resolveram montar o que originou o Tao. O primeiro CD, Uns Caetanos, muito bem recebido pela crítica especializada, apresenta releituras do músico baiano, todas marcadas por delicadeza e apuro estético do maestro carioca Vicente Ribeiro.

No segundo álbum, Cartola é o homenageado, mostrando sambas conhecidos em roupagem elegante e gostosas de ouvir. Atualmente esgotado, dá para ouvir algo fuçando na internet.

Em plena campanha de financiamento coletivo pela plataforma Kickante, Cristina e Suzie, junto a Fernanda Sabbah, a nova integrante, que surpreende com voz madura, falam do novo momento, onde divulgam Flor de Dor, CD que homenageia a poeta Etel Frota. Confira!

Por que homenagear Etel Frota?

Cris Lemos: Etel Frota é conhecida poeta paranaense, radicada em Curitiba! Por caminharmos em universos próximos da arte, fatalmente nos esbarramos e, por pura afinidade, chegamos aqui com esse CD! Há muitos anos, queríamos cantar a obra de uma mulher! Pensamos em várias compositoras, até fizemos uma primeira seleção das dez mais! Mas, antes, gravamos dois CDs dedicados a dois grandes compositores, Caetano e Cartola, e este projeto foi, então, guardado para quando tivéssemos prontas para ele! Quando estávamos preparando uma nova proposta de disco, em 2012, discutimos a possibilidade de cantar alguém daqui da nossa terra! E aí, feito mágica, coisa de ternura mesmo, lembramos da nossa antiga ideia de cantar as canções de uma mulher! Etel Frota, sem titubear, claro que foi nossa escolha! Já havíamos cantado, separadamente, algumas canções dela em festivais em trabalhos solo, participações em shows e eventos! E pelo convívio muito próximo, sabíamos da riqueza de suas parcerias que avançam Brasil adentro! Foi por amor, mas muito mais por admiração, também, pela crença na força feminina, e pelo desejo de crescer junto, alçando voos, abrangendo outras paisagens e ecoando os sons da nossa aldeia em outras paragens!

Quais são as inspirações musicais de vocês?

Cris Lemos: Música Brasileira vocal e instrumental! Principalmente Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, Gil, Caetano! As grandes cantoras brasileiras, como Elis Regina, Gal Costa, Bethânia, Joyce, Jane Duboc, Rosa Passos, Fátima Guedes. Tantos outros artistas que fica injusto citar só alguns! Também é importante ressaltar que todos os grupos vocais nacionais tiveram sua parcela de contribuição: Os cariocas, MPB4, Boca Livre, Trio Esperança, as meninas da Banda Nova do Jobim! Artistas, mestres nossos, que ouvíamos nos discos e nas rádios, que permearam nossas vidas! Mas é verdade, também, que ouvíamos de tudo do universo musical popular na época de nossa infância e adolescência, e na idade adulta e na nossa profissionalização musical! E isso aparece não só no processo de criação, mas em toda inflexão que damos às expressões das palavras! E essas referências transparecem no nosso trabalho muito menos por intenção e, sim, muito mais por formação de nosso gosto pessoal, crítico, técnico e estético! Às vezes, uma citação ou outra de determinados trechos melódicos evidenciam o cuidado no tratamento dado a isso tudo pelo nosso maestro! Na verdade, ele é quem tem ouvidos de gênio musical e escreve os arranjos com supremacia e originalidade! A nós cabe interpretá-los e aí, o resultado fala por si!

Quais são os pontos positivos e negativos de fazer música em Curitiba?

Cris Lemos: Fazer música em Curitiba é como fazer música em qualquer lugar! A grande diferença reside no fato de haver o sério risco de se permanecer somente aqui! Alguns mecanismos, como a Lei de Incentivo à Cultura Municipal, permitem muita produção! Já quanto a divulgação e propagação desses produtos, é certo que dependem muito mais do empenho dos artistas! Esta é a maior dificuldade: encontrar os caminhos para que o trabalho ganhe outros públicos! Outro ponto bem positivo consiste na excelente qualidade dos músicos formados na cidade! Nós sempre fomos muito felizes nesse aspecto! Se "importamos" algum músico foi a título de participação especial, nunca por necessidade, porque esta cidade é um celeiro imenso de bons pianistas, violonistas, contrabaixistas, clarinetistas, cantores, percussionistas, por aí vai! O que a gente percebe fora daqui é que somos tão respeitados quanto os músicos de outras praças, mais bem situadas no eixo geográfico preferido do mainstream nacional! Somos felizes por termos alcançado público muito além de nossas fronteiras e por valorizar a excelente mão de obra local! Um ponto negativo: somos mais conhecidos fora daqui o que prova que o curitibano não tem acesso aos trabalhos musicais dos curitibanos. Isso faz com que se levantem algumas hipóteses: ou os artistas não se relacionam com profissionalismo com os MCM ou eles não são acatados pela pauta dos mesmos, fortalecendo a espiral do silêncio midiático que pontua e elege os assuntos com mérito para tal!

Como vocês três se conheceram?

Suzie: Cris e eu nos conhecemos em 1991 no "Abominável Sebastião das Neves", um coro cênico bem bacana dirigido pelo saudoso Zecca Wachelke. Depois disso, fizemos parte do "Cardápio" e "Sala XV", ambos os grupos sob a direção de Liane Guariente. Helena Bel, integrante da primeira formação do Tao, também fez parte desse processo todo. Nessa época, cursávamos música na Faculdade de Artes do Paraná. Quando esses grupos terminaram, ficamos à deriva. Foi por conta disso que Cris sugeriu que montássemos um trio. A vontade de cantar juntas era enorme! Então fez-se o Tao, em 1994! Em 2009, Fernanda Sabbagh substituiu a Cris em um show do Tao com Cida Moreira e Célia. Nesta ocasião, pudemos comprovar sua enorme competência como cantora dentro de um vocal que primava pela delicadeza. Quando, em 2013, Helena Bel saiu do grupo, não tivemos dúvidas sobre quem chamaríamos para entrar no seu lugar. E super acertamos na escolha! Como nos conhecemos? No Vocal Brasileirão, um dos corpos estáveis do CMPB que, aliás, tem um trabalho maravilhoso!

Qual a importância do Vicente Ribeiro para o grupo?

Suzie: Vicente Ribeiro assumiu a direção do grupo bem no início, em 95. A partir daí passou a fazer todos os arranjos e, praticamente, construiu a sonoridade do Tao! Éramos três cantoras afinadas, de timbres marcantes e com experiência de vocal. Passamos a ser um todo harmonioso, a voz do Tao. Vicente trabalhou a delicadeza da sonoridade, as dinâmicas que dão vida e movimento, os acabamentos, enfim, tudo o que se podia trabalhar em um vocal. A identidade sonora veio como consequência da elegância dos arranjos dele, sempre muito bem dosados e ricos harmonicamente. Qual a importância do Vicente Ribeiro no trabalho do Tao? Total, ampla e irrestrita! Vicente é o quarto Tao, hehe. Sem ele não seríamos, com certeza!

Como avaliam a sua discografia até aqui?

Suzie: Nossa discografia marca bem as fases da nossa vida. O primeiro - encomendado pela CID - com gás total! "Uns Caetanos" marca fortemente nossa carreira. Com ele recebemos vários prêmios e indicações importantes. Também foi lançado no Japão pela EMI-Toshiba e muito bem acolhido pela crítica! "Rosa que te quero verde", gravado oito anos depois, contemplando a obra do Cartola, foi num outro momento das nossas vidas. Apesar de ser um lindo CD, não tivemos tempo de trabalhá-lo devidamente. Com Cartola mostramos mais ainda a delicadeza do Tao. Com as participações especialíssimas de Zé Luiz Mazziotti e Lydio Roberto, a elegância se fez mais presente. Coincidentemente, ou não, oito anos depois de "Rosa que te quero verde", chegou nosso terceiro CD, "Flor de dor" - sobre a obra da grande poeta paranaense Etel Frota - num momento de maturidade do Tao. Este trabalho já apresenta o Tao de cara nova. É o primeiro registro - de muitos que virão, esperamos - com a formação atual: Suzie Franco, Fernanda Sabbagh e Cris Lemos! A entrada da Fer resultou numa nova sonoridade, obviamente, um molho bem especial. E o bacana da história é que conseguimos juntar as quatro numa das faixas: Helena Bel gravou "Quatro Acalantos", fechando com chave de ouro sua participação no Tao. "Flor de dor" é forte, intenso e delicado. Bastante feminino, mostra todas as mil mulheres que somos. Etel nos arrebata com o seu trabalho, nos emociona e nos tira da zona de conforto. Este é um trabalho visceral!

Como é fazer uma campanha de financiamento coletivo?

Fernanda: Agora, a partir da nossa campanha de financiamento coletivo que já está no ar, poderemos viabilizar a realização do lançamento oficial do disco, com tudo o que lhe cabe em termos de músicos e participações especiais, tais como o Vocal Brasileirão e o grupo Molungo. O show está previsto para junho deste ano, também no Teatro Paiol, teatro este que tem uma história afetiva que se mistura à nossa própria história. Agora é só aguardar e trazer à luz essa obra, concebida com primor artístico, delicadeza e emotividade ímpares.

Como foi o show de pré-lançamento desse CD?

Fernanda: O show de pré-lançamento do disco ocorreu durante a Oficina de Música de Curitiba, em janeiro deste ano. Ali, demos uma amostra do que será a versão definitiva do lançamento. Infelizmente, não pudemos ter todos os músicos que nos acompanharão no lançamento oficial, por conta da agenda atribulada de todos na época da Oficina. Mas cantar para um Paiol lotado e completamente emocionado pelas canções que executamos foi um belo presságio do que está por vir.





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