Entrevistas Exclusivas

Confira a nossa entrevista com HELIO BRANDÃO


Postado em 23/09/2015

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Por Flávio Marques

Prestes a realizar uma temporada de shows em Curitiba, Paraná, o grande músico Hélio Brandão concedeu uma entrevista exclusiva para o "Galerial Musical". Os melhores momentos você confere agora:


Hélio, em 35 anos de carreira, o que de mais significativo você percebeu que mudou em Curitiba? Está melhor para trabalhar aí nos dias atuais?

Me parece, às vezes, que a importância de um curitibano aumenta quando ele está mais longe da cidade ou mais tempo fora dela. Curitiba não é uma cidade que se auto-valoriza na área musical. As poucas iniciativas que tem por aqui devem ser bastante valorizadas, porque na verdade falta muita coisa. Faltam escolas de música, uma grande escola de música, que abranja ou que tenha um currículo novo, que pode ter música erudita, jazz, música brasileira, a música do mundo inteiro, música indiana. Onde os alunos pudessem ter o contato com a música do mundo através dessa escola. O que falta em Curitiba é escola de música boa. Nós temos o conservatório, a Belas Artes, que ensina uma parte da música, mas falta um lugar que integre tudo isso, que olhe a música como um todo e que consiga trazer uma formação musical, e não uma deformação musical. Uma coisa é o ensino da música, que está deficiente, por outro lado, também deveríamos ter uma programação musical da cidade, que envolve projetos de lei, iniciativas pessoais, grupos estáveis como a Camerata ou a Sinfônica, mas tudo isso é muito pouco ainda pelo porte da cidade. Curitiba ainda é uma cidade isolada do mundo, o mundo passa aqui só pela internet. Se você quiser ter contato com o mundo, daqui, tem que ligar o computador. A maior parte das coisas não passa por aqui, não tem uma convivência musical. Tem que aperfeiçoar muito esses modelos de incentivo a cultura, como a Rouanet, Mecenato, editais. Ainda tem que ser muito aperfeiçoado para funcionar melhor. Eles funcionam, mas falta muito.

Sua família foi importante para você fazer o que faz. Sem esse apoio, você estaria fazendo outra coisa?

Foi um apoio decisivo para eu estar convivendo com a música, porque o meu pai e a minha mãe me passaram essa relação de respeito com a música mais pura, fora uma vivência de muitos anos com as minhas irmãs que são musicistas. A música em família, desde os primeiros anos, três, quatro anos de idade, nós já tivemos essa convivência de música em família. Somos sete irmãos que desde cedo tiveram incentivo musical. Existem vários tipos de música, várias formas, mas a música mais pura, que se toca num concerto, isso está um pouco desvalorizado.

De certa forma, seu novo disco homenageia Egberto Gismonte e Wayne Shorter. Qual a sua relação com estes artistas?

Esse disco tem três influências explicitas: Egberto, Wayne Shorter e Hermeto Pascoal. Esse álbum faz parte de um trabalho maior que eu venho desenvolvendo há dez anos mais ou menos. São vários trabalhos de composição com influências de grandes músicos (Bach, Villa Lobos, Piazzolla, Chico Buarque, Edu Lobo, Jobim, Charlier Parker, Jhon Coltrane). Esses grandes músicos abriram novas portas para mim. Se você criar uma grande intimidade musical com esses músicos, você também pode frequentar esses ambientes musicais, esses novos ambientes, conhecê-los. É como se fosse uma conversa com esses grandes músicos, onde eu tento mais ouvir do que falar.

Como é dividir o palco com Marco Lobo?

O Marco Lobo, além da competência musical, é uma personalidade forte e única na música brasileira, que traz ao meu trabalho de composição uma assinatura pessoal. São vários músicos competentes e bons que existem, mas tem poucos que tem essa personalidade musical forte e única, e o Marco Lobo é um deles. Onde ele estiver ele vai levar uma exclusividade musical, ele vai somar, enriquecendo o trabalho em que estiver. Se o Marco Lobo está tocando, ele não copia ninguém, ele dá a cara dele, e isso é um presente para quem está tocando junto, um prazer muito grande poder conviver com ele, tanto pessoalmente como musicalmente.

Com quem você gostaria de dividir o palco e por qual motivo?

Wayne Shorter, que toca sax também, tenho muita vontade de dividir o palco com ele. E ainda tem muitos músicos que eu gostaria de tocar junto durante a vida. Gosto de músicos com personalidade musical forte. E muitos novos que estão surgindo.

Não é comum um artista, nos dias de hoje, fazer uma temporada de shows. E você está fazendo uma. Comente sobre isso.

Não é sempre mesmo que a gente consegue fazer uma temporada. Esse é um projeto que estamos trabalhando em cima há dois anos, e dentro das dificuldades a gente ainda consegue manter um certo ritmo musical vivo. Essa temporada é um momento especial e gratificante.

O que ainda falta conquistar com a música?

A música é sempre uma surpresa que vem da alma, e uma das coisas emocionantes é que você não sabe o que vai acontecer, isso motiva muito, atrai. Esse fato justifica tudo. Mas ela sempre traz surpresas inesperadas e boas pra vida da gente, e é isso que eu quero dela.





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