Resenha do Cd Estranhos Românticos / Estranhos Românticos

ESTRANHOS ROMÂNTICOS title=

ESTRANHOS ROMÂNTICOS
ESTRANHOS ROMÂNTICOS
2016

INDEPENDENTE
Por Marcelo Teofilo

Impressionismo vigente

Visceral como quem incorpora o santo no terreiro. Entrega total. Direta conexão com o porvir. Trânsito de via fácil. Confluência de ideias. Sentido. Ação de efeito maior. Sinal. Não é música de catamarã, tampouco complexas construções de jazz. Mas, sim, o melhor prato feito servido em qualquer botequim típico da cidade com direito a cerveja e cafezinho ao final. Assim pode ser definida a música dos Estranhos Românticos. Emblemática. Direta. Não entendeu? Então, vamos lá que eu "desenho", como se diz por ai ...

O quarteto formado Luciano Cian, Marcus Muller, Mauk e Pedro Serra transforma acordes e melodias simples em algo bastante peculiar onde as sensações aparecem em primeiro plano e a música é a própria consequência das claras intenções. E como essas são boas. Límpidas. Sem a suposta pretensão que assola as cabeças pensantes das novas bandas desse país. Desfilam sonoridades, timbres e diversas experimentações pelas 12 faixas do álbum homônimo, mantendo-se íntegros à aquilo que chamamos concepção. Formato. Unidade, por assim dizer.

A música soa natural. Surge fácil. Ressurge. Real. Sem conjecturas. Como o sujeito que labuta no duro e sórdido cotidiano sem nunca se queixar. Sem jamais se deixar levar pelo canto da sereia. Pelos floreios do mercado. Pelo bruto estado de criação, eles transitam. Encantam. Onipresente som. Verdade. Catarse absoluta. Anseio. De coisa nova? Talvez. Mas, sobretudo, desejo de sinceridade. Ah, e como hoje em dia isso anda em falta. Quase não mais se vê. Conto nos dedos as novas bandas que vejo surgindo carregadas desse propósito. Muito embora, vez por outra, eu ainda esbarre com algumas por ai. Fora isso, somente xerox da própria cópia. Parafraseando Cazuza, subprodutos de rock. Mas, quem sou eu para aqui julgar. Por essa razão, muitos ainda estranham esse movimento na contramão, que desafia o mercado em busca de novas conexões. Movimento esse feito por artistas que se posicionam. Que fincam os pés e assumem suas ideologias. Integridade é o nome que se dá a esse tipo de iniciativa. A esse tipo de afronte.

Passeiam pelas faixas como se estivessem tocando em uma garagem. Pulsantes. Com vigor juvenil. Cheios de amor e energia. Orgânicos. A música da banda afasta para bem longe qualquer suposto propósito nababesco. É rock ! De altíssima qualidade, feito por quem entende do riscado. Misturam teclados lisérgicos e muitas referências antigas com uma enorme capacidade de criação. Atualização musical da boa. Da lata. Escutando o disco percebe-se, claramente, viradas inusitadas, alternância nos andamentos e a preocupação que existiu, ao longo do processo, com o resultado final. Efeitos, nada frequentes, foram inseridos. Uma busca incessante por não cair no lugar comum. A presente ideia de abandonar o óbvio, abraçando de vez novas possibilidades, é o que se "vê".

Dessa forma, nada mais adequado do que JR Tostoi assinando e pilotando a produção do álbum. A acertada escolha fez com que o som ganhasse em modernidade, não caindo em clichês como acontece de costume com inúmeros artistas. A intimidade que Tostoi tem com toda a parafernália que envolve a produção de um álbum, trouxe ainda mais identidade para o som dos Estranhos Românticos. A mixagem proporcionou uma cozinha quente com baixo e bateria soando de maneira mais evidente, na frente, na cara, algo que muito me agrada nesse tipo de som. Trouxe pressão e uniformidade às músicas. Nesse sentido, as palmas não poderiam deixar de ser estendidas também a Rodrigo Delacroix que dividiu com JR Tostoi as gravações e mixagens do disco no Ministério.

Por fim, não poderia deixar de destacar os timbres usados nos instrumentos e toda a concepção adotada por Luciano Cian no projeto gráfico, que é de extremo bom gosto. O resultado, é a também participação de Buddy McCue, artista contemporâneo que mistura pop art com impressionismo, participando da composição visual com um de seus trabalhos, contribuindo assim, para que toda essa produção se concretizasse de forma primorosa.

Escute o álbum e tire suas próprias conclusões. Aqui, eu só sirvo os aperitivos.

Resenha Publicada em 08/03/2016





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