Por Anderson Nascimento
O quinto álbum de estúdio da consagrada banda mineira de Heavy Metal Uganga é especial. Com mais de 25 anos de carreira, o grupo, notabilizado por cantar majoritariamente em português, acaba de deixar pra posteridade mais uma marca indelével de seu talento: Servus, um álbum para ser ouvido e sentido!
Algo que impressiona na banda é a capacidade que possuem de cantar novos temas, experimentando novas texturas musicais, sem, no entanto, abandonar a sua essência e nem desapontar os seus fãs.
“Servus” é um álbum conceitual e traz experimentações com faixas onde encontramos levadas como nu-metal e rap-metal, scraches e, pasmem, sons alternativos com vocais femininos. Essas são apenas algumas surpresas deste novo disco, que conta com momentos épicos como a faixa título “Servus” e a sua sequência, com a criativa “Medo”.
O disco inicia com “Anno Domini”, introdução do álbum, que apresenta uma espécie de rito tribal, que abre caminho com o “pé-na-porta” da arrasadora “Servus”. A canção tem letra crítica absurdamente consciente sobre a sociedade brasileira, abordando aspectos históricos e recentes. Cabe ressaltar também as mudanças de texturas que a faixa apresenta ao longo de sua reprodução.
O disco passeia por temas diversos, sempre rangendo os dentes e com a testa franzida. Há momentos interessantes, como em “O Abismo”, outra das melhores do disco, que difere bastante do restante do álbum, apresentando, inclusive, um inusitado solo de sax ao seu fim, onde se destaca também um curioso bater de palmas marcando o ritmo em dado momento.
Ao longo do disco, fica claro o quanto a banda é habilidosa ao colocar elementos que casam com o instrumental e com a sua música e as suas letras, sempre originais. A produção do disco, capitaneada por Manu Joker e Gustavo Vasquez, é a mola propulsora que faz com que “Servus”, possa ser chamada de obra-prima do metal nacional. É um absurdo como Manu Joker interpreta bem as suas canções, sua voz é sempre o melhor cartão de visitas para quem ouve o som da banda. Ouça “Hienas” e comprove o que eu estou afirmando.
No disco há espaço ainda para a baladinha (fato raro na discografia da banda) “Dawn”, única do disco cantada em língua Bretã. Há um flerte também com o espanhol ao fim da canção “Hienas”, que agrega a banda chilena Léxico.
Já no fim, temos a curiosa faixa “E.L.A”, uma das canções mais inusitadas de toda a história da banda. A faixa traz scratches e o vocal feminino de Flaira Ferro, dançarina e cantora pernambucana, que se junta a Manu Joker e a Luiz Salgado, outro convidado do disco.
Embora o disco tenha os seus grandes destaques, não tem como deixa de fora do texto momentos como a assustadora “7 Dedos (Seu Fim)”, que chegou a me lembrar o Hardcore feito no Brasil no início dos anos 1990. Assim como a urgência de “Couro Cru”, o sincretismo ocultista de “Fim de Festa” e, por fim, a misteriosa "Depois de Hoje...".
O disco ganhou uma caprichada versão em digipack, com capa desenvolvida pelo artista pernambucano Wendell Araújo, que agrega o sincretismo cultural e religioso, além de encarte com todas as letras e ficha técnica.
Com 25 anos de carreira a Uganga segue forte, orgulhando os seus fãs e captando novos. Ouça Servus e entenda o poder que essa banda exerce sobre os seus ouvintes. Um trabalho de primeira linha, feito por uma das maiores bandas do Heavy Metal na atualidade.