Por Fabio Cavalcanti
O Slipknot nunca foi uma banda marcada por qualquer senso de otimismo e positividade, desde o seu já clássico álbum de estreia, lançado há exatos 20 anos. O trunfo desses norte-americanos mascarados sempre foi o caos e a angústia, revestidos pela sua já conhecida mistura de ‘nu metal’, thrash metal e alguns toques alternativos. Seu novo álbum é o “We Are Not Your Kind” (2019), o qual prova que esse grande circo ainda pode encontrar novas formas de nos apresentar o seu bom e velho exorcismo sônico.
O vocalista Corey Taylor passou por maus bocados nos últimos anos, e isso influenciou na essência quase maníaco-depressiva do novo disco, com músicas que falam sobre a tentativa ferrenha – e nem sempre bem-sucedida - de derrotar a depressão ou aprender a conviver com a mesma. O ótimo single “Unsainted” é uma ode às forças psicológicas renovadas, e ainda traz um coro ironicamente angelical como plano de fundo para uma brutalidade sonora que nos lembra do seguinte: para sobreviver, também temos que mostrar nosso lado malvado.
O som do grupo continua bastante nervoso, mas também com algumas inesperadas “baladas”, além de um destaque percussivo que há tempos não se fazia tão inspirado e harmonioso no conjunto. A excelente produção faz as guitarras de Jim Root e Mick Thomson se entrelaçarem de forma mais nítida do que de costume, e até os toques eletrônicos conseguem evocar uma boa ambientação à la “filme trash das antigas” – como na faixa “Spiders”. E Corey canta – ou berra - com versatilidade e vontade de deixar uma nova marca definitiva dentro do heavy metal.
“Birth of the Cruel” e “Red Flag” são pedradas espontâneas que podem derrubar as estruturas de qualquer show. Já a intrigante “Critical Darling” evoca novamente a alternância entre peso e melodia. A excelente “Nero Forte” traz alguma esquisitice melódica e rítmica, enquanto que a quase gótica “A Liar's Funeral” é um irresistível convite ao fundo do poço. Claro, como nem tudo são flores em um disco abrangente, temos também pontos fracos, como o tédio atmosférico de “My Pain” e o lugar-comum suicida de “Not Long for This World”.
Por fim, a excelente e arrepiante “Solway Firth” praticamente define o álbum, com o seu peso quase progressivo, e com letras sobre a falsa felicidade que as pessoas exigem dos depressivos. Com isso, temos em “We Are Not Your Kind” um Slipknot de transparência emocional absoluta, através de altos e baixos – em som e letras – que dialogam com os nossos demônios internos. A numerosa trupe de Corey Taylor e Shawn Crahan entregou um dos seus três melhores discos, e está pronta para adentrar a reta final de uma turbulenta carreira musical...