Resenha do Cd Faceless / A Thing From The South

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FACELESS
A THING FROM THE SOUTH
2020

INDEPENDENTE
Por Thais Sechetin

Nos dias atuais, de fato é mais fácil fazer qualquer coisa: Na era dos streamings,do YouTube, do Google,do trabalho remoto,dos aplicativos de mensagem e das chamadas de vídeo,toda a magia de fazer/consumir/interagir sobre música se transformou. Para os nostálgicos do mundo analógico, a música pode ter morrido a partir de então. Confesso, essa que vos escreve também pensava (e sentia) dessa maneira. Hoje consigo acessar a outra polaridade da tecnologia unida à música.Uma das vantagens é conhecer em tempo recorde e até trocar ideias com bandas novas e boas de qualquer lugar do país e do planeta, inclusive com as que ainda retém a magia de fazer música como as bandas de décadas passadas. E uma dessas descobertas é a A Thing From The South.

Trata-se de um Duo espanhol formado por Alberto Maroto (guitarras e baixo) e Jaime Gil (teclados, piano e bateria), por volta de 2017 e que conta com a influência do blues, do rock sulista, do progressivo e do alternativo dos anos 90. No dia 10 de julho deste ano, eles lançaram seu segundo trabalho chamado “Faceless” (traduzindo:sem rosto) com uma capa bastante representativa criada pelo artista Javier Galdona e contando com 9 músicas divididas em 40 minutos (sim, algumas faixas são longas como ode ao rock progressivo). Seja em um faixa de duração menor ou em alguma que tenha uma virada instrumental absurdamente boa, esses músicos conseguem nos fazer prender a respiração e soltar alguma expressão que não podemos falar em encontros mais formais.

Diferente do primeiro álbum “That Old Church”, o qual prometo abordar em resenhas futuras, “ Faceless” flerta muito mais com o som experimental, foge um pouco do rock sulista mas não deixa o blues de lado, como já é mostrado na faixa de abertura “ Anomaly 212”, onde há apenas o instrumental, o blues e efeitos que nos leva de volta às distantes terras do mundo analógico.

As duas faixas seguintes contam com os vocais de um jovem cantor norte-americano que oferece sua voz para a gravação de bandas pelo mundo (mais vantagens do mundo hiperconectado), chamado Matt Greco.O estilo rock moderno, a voz de Matt e o solo de guitarra que aparece na música poderiam muito bem levar a banda ao mainstream. Em contrapartida, a faixa seguinte “Sedation”, mesmo contando com os vocais de Matt, já apresenta um som experimental de blues com temperos de Pink Floyd, que no resultado final combinaram, revezando-se em viradas muito criativas.

A faixa seguinte, “Back And Forth,tem outra participação nos vocais, dessa vez com a voz feminina da francesa Funny Face. Com uma marcação de tempo pop e a voz de Funny, que lembra muito a de Lana Del Rey, facilmente ouviríamos essas músicas no Brasil durante a programação de rádios qualificadas (adultas), mas apenas para lembrar, estamos falando de músicos que fazem de rock genuíno e em fase mais experimental,portanto, entre a marcação pop e a voz de Funny, surge o Blues novamente e o duo reforça sua marca.

Na faixa seguinte, “Remember”, que também conta com a participação de Funny Face, se ilude quem achar que será uma faixa monótona de meio de disco apenas com vozes intercaladas e piano. Se existe spoiler musical, darei aqui, dizendo que a banda dá mais uma bela virada ao encaixar o progressivo, o solo de guitarra e claro, blues! Ah! sempre o blues!

Em “The End Of The Bottle” (título sensacional), já aparece uma variação de estilo e é uma experimentação curta e divertida da banda com uma letra simples e instrumental cru, beirando o folk, também na voz de Funny Face.
O álbum fecha com a trilogia simples iniciada por Matt Greco em “Nobody”(moderna? Pode apostar que não, pois tem mais influências aí!) e segue com “Run”, que foi um dos primeiros singles lançados através dos dispositivos de música. Ela conta com a participação de outro jovem músico,chamado Hugh MacDonald (favor não confundir com o baixista da banda do Bon Jovi).

A última faixa “encapa” Faceless, fechando-o da mesma forma como ele foi aberto :com um curto blues instrumental, sons um pouco perturbadores, que inclusive é o mesmo som da faixa inicial e com quase o mesmo nome: “ Anomaly 213”. é como se o disco fosse devidamente encadernado, encapado e cíclico, extremamente bem elaborado do início ao fim.

Encerrando essa experiência de resenhar um álbum totalmente desconhecido para os brasileiros, é questionado se com o surgimento de bandas como A Thing From The South, de músicos jovens e promissores como Funny Face, Matt Greco ou Hugh Macdonald,podemos finalmente unir gerações que vivem, pensam e sentem de forma tão divergentes? E nós, público, críticos ,fãs, podemos ficar em paz com esse mundo digital, tecnológico do qual tanto fugimos?

Há uma frase atribuída a Keith Richards que diz que se o músico não conhecer o blues, não adianta pegar o violão, a guitarra e tocar Rock ou qualquer outra forma de música popular. Ao se basear pelas influência desses novos músicos, mesmo utilizando os mais modernos recursos de gravação, lançamento e divulgação de um trabalho, eles souberam viajar na máquina do tempo musical e buscar esses recursos sonoros.

Ah, e só pra finalizar: onde podemos ouvir Faceless e o trabalho dos artistas citados nesta resenha? Resposta fácil: eles estão disponíveis em todas as plataformas de música digitais.

Resenha Publicada em 04/12/2020





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