Por Anderson Nascimento
Com disposição que pode ser sentida já na explosiva “Miseráveis”, faixa que abre o primeiro Cd da banda Ensaio de Guerra, o grupo apresenta doze faixas autorais que surpreendem por suas letras bem sacadas e construídas de forma impecável.
Com nome inspirado no filme “Teatro de Guerra”, inspirado em peça do dramaturgo Bertold Brecht, a banda já possui dois anos de labuta, e esse tempo sugere que, ao longo desse tempo, eles se prepararam para lançar um trabalho de estreia realmente interessante, que consegue representar muito bem o grupo.
As referências sonoras que vem ao ouvido são muitas. A faixa “A Roda da Fortuna”, por exemplo, remete às misturas feitas pelas bandas nacionais nos anos 1990, lembrando grupos como o mineiro Tianastácia.
Canções como a caótica “A Repetição dos Dias”, ou como a pancada “Regurgito” – que curiosamente possui uma versão em voz e violão como faixa escondida no fim do disco -, ou ainda “Passeio Público”, que conta com a participação do poeta Jorge Salomão, transmitem a essência que a banda parece querer passar, força e competência para desfilar letras cheias de propósitos.
Mesmo as músicas que ensaiam serem baladas, caso de “O Sopro (Ou Simplesmente Ana)”, tem uma pegada forte que ajuda a caracterizar o som do “Ensaio de Guerra”.
Além de tudo isso, esse texto estaria incompleto se não falasse da forma como a banda apresenta as suas canções, ou seja, arranjos criativos, repletos de informações que devem ser pescadas, compreendidas e curtidas. Essa diversidade sonora impressiona também pelo fato de conseguir manter a coerência do álbum mesmo com faixas tão distintas umas das outras.
Entre tantos momentos ótimos, vale citar também a canção “Latente”, uma das melhores do disco, que tem o doce sabor de um tempero que urde Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii em um só caldeirão. Por esses motivos, os quarenta minutos do disco passam rapidinho, é quase o tempo de você desdobrar e aprender como dobrar novamente o curioso encarte do disco.
Formada pelos músicos Rodrigo Gondim (Vocal), Rodolfo Marinho (Guitarra) e Renato Monteiro (Bateria), o trio apresenta um trabalho baseado em Rock honesto que insinua que a cena roqueira acaba de ganhar um grupo forte, inteligente e, principalmente, relevante.