Resenha do Cd Fé No Batuque / Marcelinho Moreira

FÉ NO BATUQUE title=

FÉ NO BATUQUE
MARCELINHO MOREIRA
2012

SONY MUSIC
Por Anderson Nascimento

Para quem ainda não conhece, Marcelinho Moreira é cantor, percussionista e compositor carioca, reconhecido por trabalhos com Martinho da Vila (seu padrinho musical), Arlindo Cruz e Maria Rita. Marcelinho iniciou a sua carreira solo em 2006, quando lançou “Marcelinho Pão e Vinho”, álbum produzido por Martinho da Vila, e que trouxe o sucesso que deu nome ao disco.

Marcelinho tem na própria voz um sotaque carregado da malemolência dos morros e, naturalmente, do Samba. Seu segundo disco é um petardo direcionado a todos os amantes do Samba, desde o estiloso “Samba de Raiz” até o Samba contemporâneo. Tal heterogeneidade faz de “Fé No Batuque” um álbum livre das garras dos modismos, mas moderno, reverente ao passado, mas também não preso a ele, oferecendo um equilíbrio nem sempre é fácil de construir, muito embora o álbum visivelmente transborde espontaneidade. A produção do álbum, dividida entre o veterano Arlindo Cruz e a revelação Rogê, pode ser uma pista de como é que se chegou a um resultado tão bom.

A própria faixa de abertura, o já clássico Samba, “Filosofia de Vida” (Martinho da Vila, Fred Camacho, Marcelinho Moreira), composto por ele e por Martinho da Vila, presença certa nos shows de seu Mestre (como Marcelinho costuma a referenciar Martinho), segue o caminho natural de ser gravada por Marcelinho e recebe a responsabilidade de abrir o disco e servir como “carta de intenções” do álbum.

“Provar Te Mel” (Arlindo Cruz, Marcelinho Moreira) reafirma os caminhos que Marcelinho quer percorrer, um samba que revela o típico Samba do domingão, recheado de ginga, a partir de letra simples e eficiente. O mesmo acontece em canções como “Benza Deus” (Moacyr Luz, Luís Carlos da Vila), bela canção do grande Moacyr Luz e do saudoso Luis Carlos da Vila.

Ainda nesse contexto, Marcelinho traz o verdadeiro partido alto em “Deixa de Dar Defeito” (Marcelinho Moreira, Rogê), uma das melhores canções do disco, com letra dotada de uma sinceridade incrível. O pout-porri “Poeira no Caminho” (Martinho da Vila) e “Chora Viola, Chora” (Carlito Cavalcante, Santa Branca), que fizeram parte do álbum “Tendinha”, lançado por Martinho em 1978, também faz o ouvinte querer se unir ao coro pra cantar juntos esses deliciosos sambas. Outro pout-porri é “Na Forma da Lua” (Carlinhos Brown, Mart’Nália, Marcelinho Moreira) / “Alerta Geral” (Arlindo Cruz, Maurição), que traz o verdadeiro partido alto “pé no chão”, com refrão envolvente e fácil de cantar.

Trazendo o seu Samba mais para os dias de hoje, “Faço Fé No Amor da Gente” (Fred Camacho, Marcelinho Moreira, Rogê) é um samba com ar romântico, onde as letras exibem um talento importante quando se quer fazer música endereçada para o coração. O mesmo ocorre em outros momentos como “Finas Iguarias” (Fred Camacho, Marcelinho Moreira, Luis Carlos da Vila), canção pouco conhecida que ganha roupagem moderna e a voz de Marcelinho.

“Fé No Batuque” (Marcelinho Moreira) é uma ode ao batuque, com homenagens a vários artistas do Samba, entre eles Luna, Elizeu e Marçal, e ao Ovídio Brito, percussionista e mestre da cuíca, falecido em 2010.

Outro tema antigo de Martinho que aparece no disco é “Recriando a Criação” (Martinho da Vila, Zé Catimba), canção que abre o disco “Criações e Recriações”, lançado pelo sambista da Vila em 1985, e fecha “Fé no Batuque”.

As participações especiais são bem pontuais, e dão um charme especial ao disco. Seu Jorge participa em “O Dia Se Zangou” (Ratinho, Mauro Diniz), enquanto o mestre Martinho, que não poderia ficar de fora do disco, divide os vocais e composição com Marcelinho na erótica e deliciosa “Samba Sem Letra” (Martinho da Vila, Marcelinho Moreira, Fred Camacho). Em “Pra Bom Enté Meia Pala Bá” (Lenine, Arlindo Cruz), Arlindo Cruz aparece dando voz ao curioso Samba composto por ele pelo cantor Lenine que, apesar de muitos desconhecerem, tem uma interessante história com o Samba.

Em particular uma música vai deixar os botafoguenses rindo à toa, trata-se de “Nosso Amor é Preto e Branco” (Cláudio Jorge, Marcelinho Moreira), que reúne uma constelação de alvinegros formada pelos cantores Beth Carvalho, Zeca Pagodinho e pelos artistas Hélio De La Peña e Regina Casé, em canção que fala sobre o fim de um relacionamento e o amor pelo Glorioso.

Em tempos onde a formatação tem imperado em boa parte dos discos de Samba, aqui temos um artista que revela suas raízes em vários momentos do álbum, mas que em outros não deixa de se situar no Samba contemporâneo, um pouquinho de cada estilo, em disco que, desde já, marca o seu espaço entre os grandes discos de Samba já produzidos, para a nossa sorte e deleite.


Resenha Publicada em 24/03/2013





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