Resenha do Cd Blackstar / David Bowie

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BLACKSTAR
DAVID BOWIE
2016

SONY MUSIC
Por Valdir Junior

A carreira toda de David Bowie foi meticulosamente pensada, cada álbum, música, figurino, persona, videoclipe, show, tudo com ele foi criado com o intuito de fazer a sua arte avançar e não permanecer na mesmice. Talvez o velho lema do blues de Muddy Waters “Pedra que rola, não cria limo” represente muito mais o trabalho de Bowie do que o dos Stones, pois toda sua obra foi uma constante mutação.

Depois de um longo período de reclusão, seguido do lançamento do excelente “The Next Day” em 2013, o mundo abria mais uma vez, com o maior prazer, os braços e a cabeça para ser desafiado por um novo disco de David Bowie, “Blackstar” décimo quinto álbum de estúdio do cantor, lançado logo no começo de 2016, bem no dia do aniversario de Bowie.

Antecedido pelo enigmático e longo vídeo da faixa titulo, “Blackstar” é um álbum soturno e instigante, uma rica experimentação jazzística com eletrônica. Nas suas primeiras audições fica claro que este é um trabalho vai exigir muito do ouvinte. Longe da urgência roqueira do álbum anterior, “Blackstar” se revela aos poucos, a cada audição descobrimos novos sons e passagens que se encaixam cada vez mais num conceito desafiador e cheio de propósito que está bem ali, a espera de ser assimilado.

Das sete músicas do álbum, duas são regravações, "Sue (Or in a Season of Crime)" e "'Tis a Pity She Was a Whore", as duas músicas foram lançadas como single em 2014 para promover a coletânea “Nothing Has Changed”, mas aqui elas estão bem diferentes das gravações anteriores, a sonoridade de ambas estão voltadas para o conceito de “Blackstar”, pode até parecer uma repetição e a falta de material novo, mas Bowie faz isso de forma inteligente e a demais crescem (e muito) em suas novas formas.

“Lazurus” é mais uma faixa que rendeu um vídeo antes do lançamento do disco e também a faixa mais forte e representativa do álbum, inconsciente ou não, a faixa é o mais perto que teremos de um epitáfio de Bowie. A faixa título, tão hermética quanto seu vídeo, é uma mini-suíte de jazz soturno com um interlúdio pop no meio, que fala de despedida e redenção. As faixas "Girl Loves Me", "Dollar Days" e "I Can't Give Everything Away" são como as demais, cheias de metáforas e sons que nos deixam inquietos, reflexivos, e mexem conosco fazendo ouvi-las mais e mais vezes.

Muito da qualidade e da ousadia sonora de “Blackstar” é devido a excelente banda de músicos jovens que acompanha Bowie e também da produção de Tony Visconti, que conseguiram passar para o disco de forma coesa e orgânica toda a gama de ideias de Bowie para o conceito do álbum.

Bowie entrega em “Blackstar” um dos seus melhores e mais instigantes discos, infelizmente o seu último, a inesperada notícia de sua morte, dois dias depois do lançamento do álbum, deixou o mundo estarrecido e em choque, tendo que desde já aceitar conviver com a dura realidade de ser órfão de um artista irrequieto, visionário e completamente comprometido com sua arte. “Blackstar” é o canto do cisne de Bowie, como não podia de ser, mesmo em seu último ato surpreendeu o público e entregou o melhor de si para este.

Resenha Publicada em 18/01/2016





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