Resenha do Cd A Via Láctea / Lô Borges

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A VIA LÁCTEA
LÔ BORGES
1979

EMI MUSIC
Por Johnny Paul Soares

Estratosférico. Ou eu poderia usar "transcendental" para definir essa obra-prima? Lô Borges, cerca de 7 anos sem registrar em estúdio o que havia composto nesse hiato de tempo entre o clássico "Clube da Esquina" (1972; este em parceria com Milton Nascimento, o Bituca) e o cult "Disco do Tênis" (1972), abriu a porta com suavidade e presenteando-nos com o seu melhor trabalho, em minha opinião.

Lô, no alto de seus 18/19 anos em 1971, já arranhava o violão como ninguém, tocando no imaginário "Clube da Esquina"; nada mais do que uma esquina de rua no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, onde histórias marcantes foram construídas e cravadas para sempre sem criar mofo. Nessa época, Milton Nascimento (que já compunha com o irmão de Lô, Márcio Borges e o amigo Fernando Brant) se deu conta de que o menino havia crescido.

Receber um convite para dividir um disco com Milton Nascimento na altura daquela idade era, no mínimo, um choque. Trabalho finalizado, e o resto não é lenda, aconteceu e ficou para nossas apreciações.

Sete anos estacionado, o jovem Lô Borges estava pronto para levantar vôo novamente e, com alguns temas prontos e outros em andamento, Márcio Borges deu o toque final que precisava para o disco entrar em processo. Até aí, curiosamente, um dos clássicos que compõem o álbum, chamado "Clube da Esquina Nº2", não estava na lista. Bastou Nana Caymmi se encontrar com o irmão mais velho dos Borges naquele ano de 1979 em um bar chamado Diagonal, localizado no Baixo Leblon, para soltar o decisivo "Ei, Márcio! Porque você não mete uma letra naquele Clube da Esquina Nº2, meu? Tô querendo gravar isso mas sem letra não dá né, meu?!". Márcio se tocou e esqueceu de que anos antes Milton Nascimento havia lhe dito que a letra estava "proibida" na música senão "deixava de ser instrumental". Ele foi contra as regras e começou a rabiscar "Porque se chamavam homens / também se chamavam sonhos..." - clássico! Nana Caymmi, que estava com estúdio marcado para um LP naquele fim de década de 70, foi importantíssima para esse feito. O universo agradece, e a letra foi parar, claro, nas mãos de Nana, registrando o tema e deixando Bituca e Lô atônitos: Clube da Esquina Nº2 tinha letra.

Lô Borges não ficou parado e também a gravou em seu disco "A Via Láctea" junto de sua irmã Solange Borges. Histórias como essas eram comuns no meio dos amigos do Clube da Esquina: era um pingue-pongue até chegar na mais absoluta perfeição. O casamento entre melodia e letra desses músicos era algo fantástico e ainda não vi nada parecido no Brasil.

A influência quase que psicodélica e, por vezes nordestina dos músicos envolvidos, tornou a sonoridade do LP ímpar, principalmente por conta do cast de guitarristas: Toninho Horta, Cláudio Venturini, Fernando Oly, etc.

Bastou Márcio Borges ficar com a produção nos estúdios da Odeon para este "Vento de Maio". A capa foi feita por Kélio Rodrigues.
Outro clássico desse trabalho, chamado "Vento de Maio", merece uma audição cautelosa. Com sua levada quebrada, pode seduzir qualquer um. Preste atenção na letra: você pode se surpreender. Solange também participa.

"Vento de Maio" foi imortalizada na voz de Elis Regina em 1980, quando a Odeon aceitou lançar um disco chamado "Os Borges" - um amontoado de gente da família Borges e amigos. Elis estava no estúdio A, enquanto os Borges estavam no B. Elis pediu autorização para o registro no seu próprio disco, no qual recebeu o sinal verde na hora.

Caso queira cair de cabeça nessa toada mineira, pode começar por esse LP. Pelo menos 8 das 11 músicas entram em qualquer coletânea de Lô Borges. Tenha uma ótima viagem!

Resenha Publicada em 16/08/2016





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