Resenha do Cd Live In San Diego / Eric Clapton

LIVE IN SAN DIEGO title=

LIVE IN SAN DIEGO
ERIC CLAPTON
2016

WARNER MUSIC
Por Valdir Junior

Historicamente os discos ao vivo de Eric Clapton sempre foram o seu calcanhar de Aquiles dentro da sua discografia solo, salvo uma ou outra exceção, muito devido à miscelânea de gravações das respectivas tours usadas para formar os álbuns, porque inacreditavelmente o take escolhido sempre era avaliado mais pela sua qualidade técnica em detrimento a um outro de performace mais espontânea e vibrante. Isso sem levar em conta o repertório escolhido e o estado de ânimo dos músicos durante as cansativas tours.

Com a iminente aposentadoria de Clapton das tours mundiais, o deus da guitarra começa abrir seu baú de gravações para manter seu saldo bancário no positivo, é a primeira coisa que pensamos quando percebemos que num intervalo de apenas quatro meses, Clapton colocou nas lojas três discos, “I Still Do”, seu mais novo álbum de estúdio; “Crossroads Revisited”, álbum triplo ao vivo dos melhores momentos de todas as edições do Crossroads Festival de Clapton e seus amigos, e agora “Live in San Diego - with special guest JJ Cale”, álbum gravado em Março de 2007.

Não há porque reclamar desses lançamentos, quase que simultâneos, na verdade é apenas uma constatação de algo, que nos anos que virão se tornará muito comum na carreira e discografia de Clapton. Mas ao ouvir “Live in San Diego” você se perguntará: “Por que só agora (oficialmente) esse show foi lançado?”. Dado a qualidade e a surpreendente energia que erradia das perfomaces de Clapton e sua banda, num dos melhores set lists de toda sua carreira e num dos discos ao vivo mais bombásticos dos últimos tempos.

Vindo de um ótimo álbum de estúdio, “Road To Escondido” (2006), gravado em parceria com seu amigo e mentor J.J. Cale, Clapton começou nessa tour a revistar o seu repertório mais antigo, fugindo dos hits fáceis e manjados, procurando um set list que ao mesmo tempo agradasse e surpreendesse tanto o público como a ele mesmo. Outro diferencial foi sua banda de apoio, integrada com músicos diferentes dos que vinham acompanhando, músicos como: Doyle Bramhall II e Derek Trucks nas guitarras; Willie Weeks no baixo; Steve Jordan na bateria; Chris Stainton e Tim Carmon nos teclados, todos com uma pegada mais pesada e mais blues rock.

O Set list de “Live in San Diego” traz uma boa parte do repertório de uma das obras primas da carreira de Clapton, o álbum “Layla and Other Assorted Love Songs” (1970), disco gravado com pseudônimo nada secreto de “Derek and The Dominos”, são elas: “Tell The Truth”, “Key To The Highway”, “Anyday”, “Little Wing” de Jimi Hendrix e “Layla”, alám de “Got To Get Better In A Little While” faixa de um segundo disco que nunca aconteceu dos Dominos, mas que já havia aparecido no “In Concert” (1973) e no box “Crossroads” (1988). O som infernal das guitarras de Clapton, Bramhall e Trucks nessas faixas, revivem com maestria e a mesma intensidade das versões originais que contavam o insuperável Duane Allman do The Allman Brothers Band, simplesmente um espetáculo.

Vale resaltar que apesar de ser conhecido como “Deus da Guitarra”, Clapton sempre tocou melhor e preferiu em sua carreira solo contar com outro guitarrista na sua banda, tanto para deixá-lo à vontade para solar e tocar as partes mais difíceis das músicas, como para deixá-lo alerta e menos negligente, e a presença de Doyle Bramhall II e Derek Trucks na banda deixam Clapton na ponta dos cascos, pronto para dar o melhor de si em cada música, em cada solo. O Resultando é evidente ao escutarmos o disco, com um dos melhores sons de guitarra de Clapton.

Mas a cereja desse bolo é mesmo a participação especialíssima de J.J. Cale em: “Anyway The Wind Blows”, “Who Am I Telling You”e “Don't Cry Sister”, três faixas do disco “Road To Escondido”, e em “After Midnight” e “Cocaine”, aqui podemos ouvir o respeito e a humildade de Clapton, assim como de Bramhall e Trucks, diante do mestre, tocando com seus corações sem querer se sobressaírem, deixando Cale liderar e conduzir as performaces, momento esse da mais pura poesia musical, blues, country e rock na veia.

Falando em Blues, Clapton entrega versões absurdamente inflamáveis de “Motherless Children”, “Further On Up the Road”, “Crossroads” com a participação de Robert Cray, numa versão bem próxima da do Cream, algo que Clapton não fazia desde os anos 60, e “Little Queen Of Spades” com seus mais de dezessete minutos do mais puro blues. A única musica que chega a destoar um pouco desse repertório é “Wonderful Tonight”, mas, mesmo ela, está numa versão bem superior a outras presentes nos discos ao vivo de Clapton.

Com certeza “Live in San Diego - with special guest J.J. Cale” já pode ser considerado o melhor disco ao vivo de Clapton em muitos anos, e ao lado dos discos “E.C Was Here” (1975), “Just One Night” (1980), “Unplugged” (1992) e do box “Crossroads, Vol.2 – Live in the Seventies” (1996), se configura como o registro mais perfeito da performace de Eric Clapton ao vivo e também a bíblia com que todo guitarrista que queira entender e estudar a maneira de Eric Clapton tocar a sua guitarra, se deparara em seus estudos. Item obrigatório na estante de qualquer um que goste de música.

P.S: De forma incomum e surpreendente para os dias em que vivemos um DVD/ Blu-Ray do show não foi lançado junto com o álbum, apesar de todos os shows terem sido gravados e existirem alguns vídeos no youtube desse show, a gravadora optou apenas para o CD e para o vinil. Parando um pouco para pensar, é até bom, pois concentramos nossa atenção naquilo que é mais importante no disco, o som e a música de Eric Clapton, nos lembrando até de um tempo em que não havia essa possibilidade e escutávamos aos discos ao vivo como verdadeiras preciosidades, momentos mágicos de nossas bandas favoritas, que nunca mais esquecíamos.

Resenha Publicada em 08/11/2016





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