Resenha do Cd O Papa é Pop / Engenheiros Do Hawaii

O PAPA É POP title=

O PAPA É POP
ENGENHEIROS DO HAWAII
1990


Por Anderson Nascimento

Em 1990, após fecharem um ciclo de três álbuns de estúdio e um ao vivo, regra seguida à risca até o lançamento do disco "Acústico MTV" em 2004, a banda gaucha vinha de uma formação sólida, tida até hoje como a formação clássica dos Engenheiros com Augusto Licks (guitarra) e Carlos Maltz (bateria), liderados, claro, por Humberto Gessinger, e gozava de inúmeros sucessos de seus álbuns anteriores. A boa fase da banda, retratada no ao vivo "Alívio Imediato", continuaria e atingiria o seu ápice no disco "O Papa é Pop".

Inicialmente, as duas músicas inéditas do álbum anterior "Alívio Imediato", a faixa homônima e a canção "Nau a Deriva", sugeriam uma mudança no até então folk-Rock básico que a banda produzira anteriormente, em especial no álbum "A Revolta dos Dândis". Mas nem mesmo o mais antenado conhecedor de música adivinharia que a banda pudesse mudar tanto, e ainda assim obter mais sucesso do que na excelente fase que a banda já se encontrava. E foi o que aconteceu.

Humberto apostou em Rocks que seguiam a linha progressiva, um estilo pouco (para não dizer nada) em evidência na época aqui no Brasil. Talvez para que o impacto não fosse tão grande, a banda liberou o primeiro single "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones", uma regravação da época da jovem guarda, capitaneada pela banda "Os Incríveis". O sucesso foi absoluto mesmo não optando por uma versão básica - a canção era recheada de teclados, loops, uma voz anônima gritando "Brasil" desesperadamente e um solo com o hino da independência do Brasil, nada comum para aquele momento no Rock nacional. O público da nova geração que não conhecia a versão antiga enlouqueceu.

O sucesso de "Era um garoto..." e a sequência dos hits "O Papa é pop", "Exército de um homem só I", "Pra ser sincero" e "Perfeita simetria (alter ego da música "O Papa é Pop"), tornou a banda um fenômeno nas estações de rádio, pois com tantas canções de sucesso - que ainda ganhou de carona uma regravação ao vivo de "Refrão de Bolero" que se juntou aos outros sucessos - ficava difícil não topar com a banda no rádio e na televisão.

Fora os sucessos do álbum, que dispensam maiores comentários, o disco ainda traz outras músicas interessantes, e igualmente progressivas. Nesse aspecto temos como auge as canções "A violência travestida faz o seu trottoir" e "Anoiteceu em Porto Alegre" ambas com mais de seis minutos de duração e de estilo épico, que narram histórias em uma conjunção de ritmos que descrevem uma série de acontecimentos em meio a um caótico punhado de poesia non-sense.

Na mesma levada de "Pra Ser Sincero" segue a canção "Olhos iguais aos seus", uma balada simples e romântica. O álbum possui ainda outro potencial sucesso, trata-se de "Nunca mais poder", que mesmo com quebradas em seu andamento, tinha tudo para entrar na relação de hits do disco, mas que por questões de espaço dificilmente concorreria com as outras músicas. Já "Exército de um homem só II", é um Rock que dá continuidade à primeira versão mais famosa, e que no álbum ao vivo "Filmes de Guerra, Canções de Amor", acabaria se fundindo com a sua irmã mais famosa. Finalmente o disco encerra com uma canção em forma de brincadeira "Ilusão de ótica", onde uma série de frases sem sentido podem ser ouvidas caso você toque o disco ao contrário. Uma brincadeira que maldosamente provocou uma série de acusações sensacionalistas de pessoas afirmando que aquilo se tratava de mensagem subliminar, ou ainda demonstrando adoração ao ocultismo.

"O Papa É Pop" foi um sucesso tão grande que ultrapassou rapidamente a marca das quatrocentas mil cópias, tornando-se o disco mais vendido da banda. O curioso é que, ainda que o álbum explicitamente se rendia ao Pop, nas entrelinhas o então novo disco dos Engenheiros dava início a uma fase progressiva que duraria por mais dois álbuns, tendo o seu ápice com o excelente "Gessinger, Licks & Maltz" de 1992.

Resenha Publicada em 02/11/2009





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