Origem. Desde tempos imemoriais este termo é responsável por identificar não apenas a razão de ser das coisas, mas também para significar, sempre que utilizado, o nascimento, uma nova origem, um surgimento de algo novo em sentido etimológico. Portanto, voltar à origine, como ensinaram os romanos de modo singular, não é apenas das passos para trás e pôr em prática antigos afazeres, mas também, se possível, dar início a um novo ciclo. Em 1968, após se perder nas trilhas psicodélicas com Their Satanic Majestys Request, os Rolling Stones fizeram jus ao termo latino origini e brindaram o mundo com um álbum simples calcado nas suas origens: o blues.
Controverso como a própria banda, Beggars Banquet é composto, desde a capa, por curiosidades. Imitando um singelo cartão-convite, confirmado com as iniciais RSVP, que remetem a Répondez, sil vous plaît (Responda, por favor). Até aí, uma ótima sacada. Todavia, a capa clara e simples foi logo associada à um plagio ao "White Album", dos Beatles, lançado apenas duas semanas antes. A confusão gerou uma impressão negativa que perdurou até o relançamento remasterizado do disco, que culminou com a alteração da capa, que ostentava, então um banheiro pichado.
Fora as controvérsias, "Beggars Banquet" é um excelente álbum. Acústico em sua essência, a banda conseguiu transformá-lo em uma espécie de "retorno à boa forma", como indicaram os críticos da época. O disco contou com a produção de Jimmy Miller, que já havia trabalhado com o Traffic em seu excelente disco homônimo de estréia, também em 1968. Grande parte das canções de "Beggars..." é composta por letras simples, inspiradas no blues de raiz americano, visto em Son House e Robert Johnson. De decepções, malícias, e doenças, o disco cavalga por um universo criativo singular, que seria visto em diversos outros momentos futuros da banda.
Prova disto são as excelentes "Stray Cat Blues", "No Expectations" e "Dear Doctor". Comercialmente rentável (o disco chegou ao 3º lugar nas paradas britânicas), o disco apresentou também "Street Fighting Man" e, em formato single separado, "Jumping Jack Flash", um dos maiores sucessos da banda. Mas a pérola essencial de "Beggars Banquet" é, seguramente, "Sympathy for the Devil". Dotada de uma letra ímpar, a canção apresenta o desenvolver da humanidade em um formato peculiar: a história é contada pela visão de Lúcifer. Esteada por uma percussão memorável, Jagger e Richard mostraram ao mundo do que são capazes, mesclando versos ambíguos que lhes renderam ainda mais polêmica.
Musicalmente, "Beggars Banquet" é um dos melhores momentos dos Stones, que seria repetido pouco tempo depois no também incrível "Exile on Main St.". Eis os Stones em origine bruta, como em poucos momentos seriam vistos.
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Rock Pensante