Resenha do Cd Qual é, Baiana? / Marilda Santana

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QUAL É, BAIANA?
MARILDA SANTANA
2012

INDEPENDENTE
Por Marcio Salgado

A cantora Marilda Santana criou em seu novo CD “Qual é, baiana?” (2012) uma narrativa musical que estabelece um diálogo entre o tradicional e o moderno. No seu repertório, as composições que falam das coisas da Bahia ganham arranjos e interpretações inovadores.

A forma de narrativa musical serviu para dar coesão ao tema, que se desdobra em variadas estéticas musicais identificadas com a Bahia. Não que neste trabalho haja uma ideia de totalidade, bem ao contrário, nele se harmonizam múltiplas vozes, como num quebra-cabeça, onde as partes se procuram e se encaixam.

É assim que a “Falsa baiana” pode encontrar-se com a sua rival na “Subida da Gamboa”, embora Geraldo Pereira e Beto Pitombo sejam compositores de épocas distintas. A citação não é sem propósito, pois as duas são representantes do samba de qualidade. A primeira já fez história, é bem conhecida do grande público - uma obra-prima. A outra está a caminho, ainda é uma novata no samba, quer ser escutada, apreciada. Como boa filha da terra, ela traz a Bahia de um lado e a irreverência do outro: “Fiquei foi com/ Cara de tacho/Pisei no despacho/Quebrei a panela, oh/Bye, bye, já foi já era”, diz um dos seus versos. Heresia baiana que ganha um apropriado contorno irônico na interpretação de Marilda Santana.

O próprio título do CD “Qual é, baiana?” (composição de Caetano Veloso e Moacyr Albuquerque), já indica essa irreverência que se mistura à sensualidade de outras canções. Não faltam as imagens de sedução na rua e no terreiro, onde a baiana dança de “saia rodada” e “dá nó nas cadeiras”.

É na mistura de coisas antigas com a nova Bahia que Marilda Santana encontra o seu groove. É curioso, pois, com um canto intimista, ela não foi levada pela força do axé, e, menos ainda, pela batida do reggae, gêneros que dominaram o mercado baiano durante alguns anos. Contudo, vem do repertório de Daniela Mercury a composição “Groove da baiana”, que ganhou uma bela interpretação de Marilda Santana.

“Lá vem a baiana”, composição de Dorival Caymmi, também marca presença neste trabalho. Nela o autor teme ser seduzido pela baiana no samba e tenta a todo custo escapar das suas tentações: “Pode jogar seu quebranto que eu não vou/Pode invocar o seu santo que eu não vou...” Ele, que também foi navegador, faz como os gregos da epopeia homérica que se prenderam no mastro da embarcação para não sucumbir ao canto das sereias. Bem ao estilo Caymmi, a música termina com um resmungo humorado: “Se ela sambar/Hum hum hum...”

O CD “Qual é, baiana?” traz ainda outras composições do gênero, conhecidas ou desconhecidas do grande público, como “Toda menina baiana”, de Gilberto Gil, “Roda baiana”, de Ivan Lins e Vitor Martins, ‘Baiana do tabuleiro”, de André Filho, “Vestido de prata”, de Jorge Alfredo, além de outras. Na diversidade dos seus versos musicais, a cantora encontrou a unidade temática que procurava.

Além desse CD de caráter mais intimista, Marilda Santana desenvolve outros trabalhos como pesquisadora e criadora do grupo “As Raidiantes” de cantoras que trabalham com teatro, música e humor. O novo CD conta com os arranjos certeiros dos maestros Letieres Leite e Luiz Asa Branca.

Resenha Publicada em 15/08/2013





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