Resenha do Cd Espelho Retrovisor / Vários

ESPELHO RETROVISOR title=

ESPELHO RETROVISOR
VÁRIOS
2014

INDEPENDENTE
Por Anderson Nascimento

Poucas vezes na história recente do Pop Rock brasileiro uma banda gozou de tanta impopularidade por parte da crítica musical como os Engenheiros do Hawaii. Com críticas cada vez mais pesadas e injustas sobre os seus álbuns, os formadores de opinião sempre vibraram em uma frequência bem diferente do que o público.

Não por isso, incrivelmente o que se viu em termos de público foi um aumento sempre crescente da cartela de fãs da banda. Na verdade, os fãs dos Engenheiros do Hawaii acumularam a fama de ser um dos mais apaixonados do país, em uma relação quase messiânica por seu mentor Humberto Gessinger. Aliás, certa vez, sugeri à saudosa revista de música Zero uma pauta sobre essa relação entre os fãs para com Humberto, o que rendeu não só uma matéria, mas também uma capa histórica. Infelizmente eu nunca recebi um obrigado por isso, obviamente que nem créditos também, mas a satisfação de ver Humberto na capa de uma revista tão boa me deixou muito feliz.

Eis que este ano, mais precisamente em 11 de novembro, o site “Scream & Yell” resolveu prestar uma justa homenagem aos 30 anos – o primeiro show do grupo foi em 11 de janeiro de 1985 - da banda ora desativada, produzindo uma coletânea virtual onde diversos artistas fazem releituras de canções de diversas fases da banda.

Em um trabalho elogiável de produção, com encarte com todas as informações sobre os artistas participantes, capa assinada por Luis Saguar e Melissa Mattos, e repertório cronologicamente enfileirado, que atravessa praticamente todas as fases da banda, o tributo foi organizado pelo produtor cultural Anderson Fonseca, que acompanha Humberto desde a época do álbum “Tchau Radar” (1999).

Entre as versões agradaram muito as bandas que tomaram as canções pra si. Já na abertura a banda curitibana Anacrônica faz isso com o clássico “Toda Forma de Poder”. O que dizer então da sequência etérea com o paulista Phillip Long transformando “Terra de Gingantes” em um Power-folk? A maioria das gravações merecem incontáveis elogios, o que faria desse texto um longo testamento.

Entre os grandes destaques está “Pose”, em versão feita pela “A Banda Mais Bonita da Cidade”, uma das primeiras faixas mostradas pelo site antes do lançamento completo do disco. Bem como a versão ao vivo de “Parabólica” feita ao vivo no Teatro São Pedro (PoA, RS) pela banda gaucha Vera Loca, grupo que é velho conhecido aqui no site Galeria Musical. Nevilton é outro que se destaca com a surpreendente versão de “A Promessa”.

Algumas versões conservam a simplicidade das faixas originais, mas encantam por serem entoadas repletas de emoção. Esse é o caso da (ainda mais) gaucha “Ilex Paraguaiensis” feita por Bebeto Alves, de “Números”, por “Dario Julio & Os Franciscanos”, e “Dom Quixote”, feita por Fernando Anitelli do “Teatro Mágico”.

Quem curte mais quando as canções deixam de passar pelo filtro alternativo, vai adorar as versões de “Refrão de Bolero” da banda Monocine, ou ainda, a versão perfeita de “Alívio Imediato”, feita pelo grupo “Dias Buenos”.

Já quem prefere a ousadia vai curtir a audaciosa versão instrumental de “Infinita Highway”, o maior clássico dos Engenheiros, feita aqui de forma instrumental pelo duo paranaense “Strobo”, o que parece ironia, já que a canção é uma daquelas que boa parte de quem viveu os 80s sabe a letra de cor e salteada. Falando em audaciosa, eu nunca imaginei ouvir uma canção dos Engenheiros cantada em japonês, mas aconteceu nesse tributo com a gravação de “Pra Ser Sincero”, em versão em português e japonês, interpretada pela cantora Tsubasa Imamura.

Gostoso também (re)ouvir os lados Bs da banda ganhando vida por outras vozes. “Quartos de Hotel”, do álbum “Várias Variáveis” (1991) ganha versão eletrônica pela cantora BLANCAh, enquanto “3 Minutos”, faixa do “Minuano” (1997), que ganha uma suingada versão feita pela banda mineira formada por garotas “Dolores 602”.

No finzinho do álbum temos as canções “mais recentes” do grupo. O tributo salta o álbum “Surfando Karmas & DNA” (2002), e traz boas versões de “Outras Frequências” por Borba, e “Não Consigo Odiar Ninguém”, feita pela banda “Sonorata”, respectivamente dos álbuns “Acústico MTV” (2004) e “Novos Horizontes” (2007).

Enquanto Carlos Maltz é figura popular no Twitter e Augusto Licks continua sumido, não custa dizer que o Humberto vai muito bem desde que desativou os Engenheiros do Hawaii em 2008. De lá para cá ele escreveu livros e sustentou uma bela parceria no duo “Pouca Vogal” com o amigo Duca Leindecker (Cidadão Quem), incluindo lançamento de CD e DVD ao vivo. Recentemente, em projeto solo, Humberto lançou o álbum “Insular” e fez shows em todo o Brasil, que acabaram rendendo um DVD ao vivo que vem sendo sucesso de vendas.

A devoção ao Humberto e aos Engenheiros do Hawaii continua firme e forte, indo da lotação das casas onde Humberto se apresenta, até o cúmulo da utopia em ver o trio GLM junto novamente. Tudo isso só faz provar novamente que entre o duelo entre crítica e público, o público venceu.

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Resenha Publicada em 15/11/2014





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