Por Claudinei Jose De Oliveira
Se desconsiderarmos o disco com o Marcelo Nova, este é o último registro de Raulzito. Dá pra ver a chama se apagando. Restava apenas um fiapo de voz de alguém que, se nunca foi um crooner primoroso, sempre soube impor personalidade e atitude em suas características vocais.
Outro ponto constrangedor no álbum é o fato de Raul se agarrar às glórias do passado como um náufrago a um pedaço de madeira. E só olhar para a capa e ouvir a canção título e "A Lei" e encontramos uma reciclagem barata do misticismo fuleiro que o fez famoso na década de 1970, algo que já vinha sendo tentado desde o álbum anterior, com uma versão em inglês de "Gita". Isto, somado a uma mistura bizarra de timbres eletrônicos, principalmente na bateria, com a instrumentação tradicional, mostra um Raul Seixas tristemente sem rumo.
Porém, sua versão de "Check Up", anteriormente gravada com outro título e outra letra por Rita Lee, "Fazendo O Que O Diabo Gosta", "Cavalos Calados" (depois regravada por Cazuza), o tema folclórico "Lua Bonita" e, fechando com chave de ouro, a singeleza de "Areia Da Ampulheta" mostram que, mesmo caindo das pernas, está lá tudo aquilo que fez do homem mito, objeto de culto, persona da cultura popular nacional.
O sucesso do álbum foi uma versão de uma canção gravada por Ringo Starr, chamada "Não Quero Mais Andar Na Contramão" que, numa letra malandra, justificava (tardiamente) não gozar mais dos prazeres do vício. Tarde demais? Para o homem Raul Seixas até podia ser mas, como diz a letra de "Senhora Dona Persona", "os homens passam e a música fica".