Resenha do Cd Iria Braga / Iria Braga

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IRIA BRAGA
IRIA BRAGA
2013

GRAMOFONE
Por Arthur Vilhena

Iria Braga é uma Curitibana que pertence ao nicho interessante de artistas que revitalizam a música contemporânea brasileira. Cantora e atriz, estreou em disco solo homônimo gravado no estúdio Gramofone+Musical - lançado em 13 de março de 2013. Com produção e concepção artística da própria cantora e arranjos e direção musical de Oliver Pellet, trata-se, de fato, de moça madura, que sabe aonde quer chegar e entrega sua musicalidade de maneira refinada e acessível.

Preenchendo belíssimo vestido de noiva de brechó em foto de Leonardo Franco na capa do disco, o ouvinte se depara com uma fêmea atenta, observadora. O design gráfico da também curitibanaAdriana Alegria reforça o clima clean, envolto em atmosfera onírica, atmosfera essa que vai se dissolvendo durante a audição do disco, na qual Iria, munida de suas ferramentas, explora suas diversas facetas como artista, entregando antes de tudo uma mulher plural que sabe se expressar através de sua musicalidade.

Iria defende apenas nove canções, sendo uma delas de lavra própria em parceria com Elizabeth Fadel (Baião do Mato). Nesse percurso, contou com um time da pesada: Oliver Pellet na guitarra e violão, Davi Sartori no piano e Rhodes, Denis Mariano na bateria, Sandro Guaraná no contrabaixo fretless, Alexandre Ribeiro no clarinete e Alonso Figueroa, designer de som, nos efeitos e samples. Este timaço dá nova cara a criações de compositores da terra, como “Chapéu de Sobra” de Dú Gomide e Estrela Leminski, ao mesmo tempo em que visitam “Peito Vazio” de Cartola e Elton Medeiros com a mesma naturalidade com que erguem ponte curiosa com “Habanera” de Georges Bizet, famosa ópera conhecida mundialmente.

Canção de domínio público batizada com uma expressão tipicamente paraense, “Mana” abre os trabalhos emoldurada por um instrumental discreto e eficiente: começa calmo e vai ganhando um outro colorido. Davi Sartori, no comando do piano e Rhodes, merece destaque.

“Estrela de Sal” (Wagner Barbosa) ganhou bateria gostosa de Denis Mariano. A primeira e segunda estrofe dão a entender que se trata de uma biografia (autorizada, por favor) de Iria: “Deu no jornal, que havia estrelas no céu, que eram estrelas de sal, da filha de Ogum vencedor, a filha de Yemanjá, da dona Janaína do mar, nasceu brasileira daqui”.

“Chapéu de Sobra” (Dú Gomide e Estrela Leminski) é a faixa com mais cara e jeito de hit (se bem trabalhada em veículos de comunicação ou numa trilha de novela global, poderia render bastante). O arranjo desperta simpatia imediata pela característica solar, muito disso se deve ao violão e guitarra de Oliver Pellet. É uma canção pop, mas que não resvala na superficialidade barata.

“Tempo Água” (Indioney Rodrigues) é uma música forjada no tempo da delicadeza, sem ser piegas. Nesse quesito, o violão delicado de Oliver Pellet e o piano de Davi Sartori ajudaram muito. Iria canta saboreando os versos, as palavras, degustando a letra forte de imagens poéticas, como exemplifica o trecho a seguir: “água nua, o tempo é um vestido, renda de reza e destino, pano fino sobre um corte”.

“Crotalus Terrificus” (Arrigo Barnabé e Paulinho da Viola) é a melhor faixa desse álbum. Iria deita e rola numa interpretação teatral, o que nos leva a pensar em como ela fica ao vivo, deve crescer bastante. A letra é um achado, sarcástica e cheia de boas tiradas, como quando Iria maliciosamente canta os versos: “mas eu sou mística, não tenho nada de racional, eu sou apenas uma cascavel no gosto popular”. Além de tudo, essa canção renderia um belo clipe com clima nonsense. Por fim, o londrinense Arrigo Barnabé a gravou em disco próprio de 1984 batizado como “Tubarões Voadores”, sacada esperta de repertório.

“Habanera” (Georges Bizet) tem arranjo que emula um ar de mistério enquanto Iria vai soltando a voz. É uma canção que vai crescendo, envolvendo aos poucos. Tem solos de guitarra bem elaborados.

“Peito Vazio” (Cartola e Elton Medeiros) é uma escolha arriscada para qualquer cantora: a letra exige uma carga dramática forte. Iria resolveu baixar os tons, o que diluiu um pouco o sentido de versos como: “procuro afogar no álcool a tua lembrança, mas noto que é ridícula a minha vingança, vou seguir os conselhos de amigos e garanto que não beberei nunca mais, e com o tempo essa imensa saudade que sinto se esvai”. Esse fato isolado não prejudica o resultado final do disco como um todo, apenas ficou uma canção menor perto do restante.

“Ginga do Mameluco” (Oliver Pellet) é uma faixa instrumental na qual Iria faz vocalizes. Mesmo resultando longa, tem mudanças de andamento interessantes, com bons desempenhos da banda.

“Baião do Mato” (Elizabeth Fadel e Iria Braga) recebeu contrabaixo fretless interessantíssimo de Sandro Guaraná. Trata-se de canção bem construída, com melodia esperta que “pega” o ouvinte, logo, uma das melhores do disco. Fica impossível não imaginá-la na voz de Elba Ramalho (a letra dialoga perfeitamente com ela) quando Iria canta versos como: “apresento meu sentir, o Iraçu cantava ali, vai depressa ver um índio acuado, mãe dourada vem vingar, desidrata todo mal, replanteia meu quintal”. Por fim, essa música cresce junto com a vontade do ouvinte de dançar.

Resenha Publicada em 21/05/2015





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