Resenha do Cd Harvest / Neil Young

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HARVEST
NEIL YOUNG
1972

WARNER MUSIC
Por Rafael Correa

As vicissitudes que permeiam a história do desenvolvimento da extensa carreira de Neil Young são emblemáticas. Com "Harvest", Young tornou-se o astro e símbolo do folk rock na década de 70. Talvez este seja o sonho de qualquer músico: transformar-se em uma referência no que faz. Contudo, Neil Young trafegou na contra mão e, ao invés de ter o mundo ao alcance da vista, decidiu pegar um desvio e desligar-se de tudo o que o conectava ao sucesso.

Tanto isso é verdade que a maioria das canções que compõem "Harvest" (um disco recheado de singles) ficaram de fora do set list dos shows de Young, em especial "Heart of Gold", que tocou exaustivamente nas rádios quando do seu lançamento. Poucos são os registros do músico e compositor executando ao vivo tal música: talvez, ela represente tudo o que Young nunca quis ser.

Afora tudo isso, não há como negar que "Harvest" seja uma das pedras fundamentais do folk. Grande parte das canções possuem uma mensagem direta a ser transmitida: Neil Young confeccionou um excelente trabalho ao escrever as letras deste álbum. Em âmbito de musicalidade, também não há o que discutir. Músicas como "Out On The Weekend", "A Man Needs a Maid" e a própria "Heart of Gold" criam um universo peremptoriamente interessante, demonstrando toda a essência do folk presente no autor dos versos. Quando nos acostumamos com este "caminhar" do disco, somos pegos de surpresa por "Are You Ready For The Country?" que alicerça uma peça interessante, que mistura a levada de piano típica do blues com os compassos originalmente percebidos no country.

Outro grande momento de "Harvest" é encontrado em "Old Man", uma canção permeada por uma das letras mais instigantes e sinceras já compostas por Neil Young. Ao estampido seco do baixo, Young desabafa com pesar: "velho homem, dê uma olhada na minha vida / eu sou um bocado como você / preciso que alguém que ame-me por todo o dia". Gradativamente, a faixa agrega novos elementos, como a inclusão de cordas de banjo e o encaixe perfeito de backing vocals femininos.

E, ao fim da canção, quando ainda estamos refletindo sobre o significado da letra (que, segundo Burhan Wazir, um dos co-editores da inglesa Times, nada mais era do que uma homenagem de Neil ao seu caseiro), "Theres A World" muda totalmente o ambiente, com a presença de uma introdução composta pelo exercício de uma pequena orquestra de violinos, flautas e harpas. A canção poderia muito bem figurar como a trilha sonora de um filme épico, tamanha a dimensão que possui. Por conseguinte, não há como deixar de falar de "Alabama", canção mais rock and roll do álbum, e de "Neddle and Damage Done", outro desabafo sincero do cantor.

"Harvest" é um disco sem precedentes na história do folk, rivalizando abruptamente até mesmo com os trabalhos de Bob Dylan. Pouco tempo após o lançamento deste disco, Neil Young iniciou uma queda ladeira abaixo no que diz respeito à sua integridade emocional, provocada pela perda de dois amigos próximos (o guitarrista do Crazy Horse Danny Whitten e seu agente Bruce Berry) por overdose de heroína. No entanto, como ocorre com as grandes mentes criativas da música, toda esta problemática acabou por fomentar o excelente e sombrio álbum "Tonights The Night", de 1975. Por ora, cabe-nos a função de apreciar devidamente este registro que é considerado por muitos como o auge da criatividade de Young.

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Publicado originalmente no blog Rock Pensante

Resenha Publicada em 02/03/2011





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