Por Ricardo Schott
O segundo disco da banda norte-americana The Killers era aguardado. E como. Após Hot fuss , o alegre primeiro álbum, no qual a banda unia tudo o que conhecia de Duran Duran, New Order e The Cure (este, clara influência nos vocais de Brandon Flowers) e criava hits excelentes, muita gente poderia apostar num segundo álbum melhor ainda - e a banda até que colaborou para tais expectativas, dellarando que o segundo álbum seria "um dos melhores discos de rock dos últimos 20 anos". De Sam's Town , dá pra dizer que valeu a intenção de Brandon, Ronnie Vanucci (bateria), Dave Keuiining (guitarra) e Mark Stoermer (baixo).
Gravado parte num estúdio dentro de um cassino em Las Vegas, terra dos caras, parte em Londres, o disco novo vem num tom mais "pra baixo", distante das ótimas canções do disco anterior. Deixa entrever um certo apego a "conceitualismos", que pouco têm a ver com o que se espera de uma banda festeira como os Killers. O lance é que, de qualquer jeito, é um disco ousado. A faixa-título, que abre o CD, tem um tom épico e quase operístico em alguns momentos - embora tais detalhes se encaixem na argamassa dance-rock que a banda já criara em seu disco anterior, sem muitos problemas. Logo depois, vem um "interlúdio" de piano-e-voz que convida o ouvinte a embarcar na do disco: "Esperamos que você aproveite a estada/É bom ter você com a gente/Mesmo que seja só por um dia". O mesmo tom épico continua em "When you were young", bom hit, repleto de riffs com referências power-pop, mas bem inferior a eles mesmos há dois anos.
É nessa base que a banda talvez jogue algumas duchas de água fria em vários fãs, já que mesmo os hits mais dançantes do disco são caídos, se comparados aos de Hot Fuss. O grupo tem sido acusado por muita gente de tentar copiar o U2, coisa que nem é mentira: Brandon Flowers, que já soou idêntico a Robert Smith do Cure, dessa vez imita Bono Vox direitinho - seja em "Bling (Confession of a king)", cujos riffs e arranjo também são chupação direta do grupo irlandês, seja na pesada "For reasoins unknown", a cara do U2 dos primeiros anos. Vai soar até clichê repetir o que todo mundo já disse, mas é isso aí - e provavelmente as escolhas dos produtores Flood e Alan Moulder, conhecidos por seus trabalhos com os irlandeses, não vieram à toa. Nada disso torna Sam's Town um disco fraco, chato ou vazio. As músicas são boas, mas estão distantes do que se esperava da banda em trmos de qualidade. O problema é quando um segundo álbum dá saudade do primeiro disco, da expectativa que se criou em torno dele e da alegria dos hits iniciais. Ou quando a banda vem, num segundo disco, com um número maior de canções um tanto repetitivas (e tomara que eles não queiram fazer da breguinha "Read my mind" uma "Somebody told me" do segundo disco).
Como momentos que provavelmente muita gente vai curtir, vale citar a beleza da dançante "Bones", a balada pesada "Uncle Johnny" (que, dizem, foi feita por Flowers para seu tio, que pegava pesado demais em drogas). A imitação de Bono & cia fica só na música. Flowers continua o mesmo doidão de sempre, a ponto de fazer da faixa título do disco um inventário da putaria da sua terra natal. Ainda bem, porque se Sam's town fosse um disco "cabeça" seria frustrante demais. Mas falta organização ao disco, como se fossem dez faixas (na verdade doze, mas há ainda o tal "interlúdio" e um "encerramento" quase igual) costuradas na pressa - nenhuma delas rendendo "a" grande canção que a banda precisava. O resultado é que Sam's town é um disco que talvez fosse ouvido de outro jeito se estivessem os Killers lá pelo quarto ou quinto disco. Saído logo agora, parece que o peso do "segundo disco" fez mal a eles.