Resenha do Cd Os Dias Eram Assim (lp) / Vários

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OS DIAS ERAM ASSIM (LP)
VÁRIOS
2017

SOM LIVRE
Por Rodrigo Paulo

Em 1969 a Som Livre foi fundada com a intenção inicial de lançar as trilhas sonoras das novelas da Rede Globo. A ideia deu certo e com o tempo a gravadora atingiu recordes de vendas em LPs, K7 e, a partir de 1989, com lançamentos em CD (“O Salvador da Pátria Internacional” inaugurou o lançamento dessa nova mídia para trilhas sonoras e por quase uma década se manteve como a trilha mais vendida da gravadora). Depois de 20 da produção e lançamento do seu último vinil para o gênero (A Indomada Vol. 1). A gravadora acompanhando a exibição da supersérie (novo título para as novelas da faixa das 23h) “Os Dias Eram Assim” lançou uma trilha especial e em edição limitada com onze faixas no antigo formato. Alegria para os fãs do gênero televisivo e para os fãs de música. A trilha em CD foi lançada em disco duplo com mais 16 faixas, mas dela falaremos em outra oportunidade.

A trama de “Os Dias Eram Assim” se desenrola entre os anos de 1970 (período da Copa do Mundo do México e uma das piores fases dos “Anos de Chumbo”) e 1985 (o auge do movimento “Diretas Já”, encerrando um dos períodos mais obscuros da história do país). Para retratar as duas décadas a trilha sonora inserida no LP conta com 80% de músicas lançadas na época em que se passa a história e o restante com músicas do final da década de 1980 e início da década de 1990. E depois dessa introdução, vamos ao que interessa!

O Lado A abre com uma regravação da belíssima “Aos Nossos Filhos”, composição de Ivan Lins e Vitor Martins, gravada pelo primeiro em 1978 no disco “Nos Dias De Hoje” e que recebeu uma nova roupagem nas vozes dos atores Sophie Charlotte, Daniel Oliveira, Renato Goes, Gabriel Leone e Maria Casadevall para ser o tema de abertura da novela onde os mesmos foram protagonistas. A nova versão ficou boa, mas na voz do próprio Ivan ou de Elis Regina teria mais veracidade para abrir os capítulos. Afinal essa é uma música forte que conta do período de exílio que muita gente passou naquela época.

“Linguagem do Alunte” é um dos clássicos dos Novos Baianos lançado no disco homônimo em 1974, que graças aos deuses da boa música, retornaram para mostrar como a MPB da década de 1960 e 1970 é rica em sonoridade. A emocionante e atemporal “Sangue Latino” foi extraída do primeiro disco dos Secos e Molhados em 1973, outro grupo que marcou a MPB. Grande acerto em colocar essa música na trilha sonora. “Deus Lhe Pague” entra na trilha com uma versão ao vivo da nossa Pimentinha, Elis Regina. Essa versão da música de Chico Buarque soa ainda mais voraz na voz de Elis e foi extraída do disco “Transversal do Tempo” lançado em 1978. Protesto!? Que isso!?

O Lado A ainda tem a versão 2017 de “Como Vai Você?”. Composição de Antônio e Mário Marcos que fez um megassucesso na voz de Roberto Carlos (em sua fase romântica) na virada da década de 1970. Aqui ela ganha a interpretação de Hohnny Hooker, mantendo uma dramaticidade que fora bem aproveitada na trama. Fechando esse lado da trilha temos outro clássico em versão original, “A Lua Girou” na voz de Milton Nascimento. Esse clássico do repertório do nosso Bituca foi extraído do disco “Geraes”, lançado em 1976.

O Lado B abre com uma das melhores músicas do grupo Os Mutantes. “Ando Meio Desligado” música do disco “A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado” lançado em 1970 foi composta em uma das muitas viagens alucinantes de Rita Lee e dos irmãos Sérgio e Armando Dias. Na trama das 23h ela serviu para dar alívio aos temas mais pesados da história. Na sequência temos o tema dos vilões de “Os Dias Eram Assim”, e que dizia muito das loucuras dos mesmos. “Eu Te Amei Como Pude (Feito Gente)” foi composta e gravada por Walter Franco e abre o seu disco “Revolver”, lançado em 1975.

“Nossa Canção”, Canção de Luiz Ayrão gravada por Roberto Carlos em 1966 é uma raridade. Apesar da canção receber regravações ao longo do tempo, até mesmo do próprio rei. No LP ela entra na gravação original, puro áudio mono. Na trama ela serviu de tema romântico dos protagonistas. Marina Lima entra na sequência com a marcante “Não Sei Dançar”, tema da personagem Nanda (Julia Dalavia) que durante a década de 1980 descobre ter contraído o vírus HIV. Ponto alto da novela retratar esse assunto que era tabu nos seus primeiros anos. A canção é a mais nova do repertório, sendo lançada no disco homônimo da cantora em 1991. Por fim temos Tiago Iorc regravando um dos hinos da Legião Urbana lançado no disco “Dois” de 1986. “Tempo Perdido” ganhou uma nova roupagem mais clássica, com cordas e piano merecendo o posto de encerramento do disco.

O LP da trilha sonora é o melhor lançamento do gênero nesse ano. Houve um cuidado especial no projeto gráfico. A logo da Som Livre e o selo colado nos lados do vinil são como os dos lançamentos da década de 1970 e o encarte em formato de luva vem com as letras das músicas, informações técnicas e fotos dos personagens. A parceria com a Polysom (renomada fabricante de vinis atualmente) foi outro detalhe que deu o ar da graça nessa trilha nostálgica com um disco de 180gr. Torcemos agora para que essa parceria renda novos lançamentos. E por que não? Relançamentos de trilhas sonoras marcantes. A Lista é grande e tem público para isso. Fica a dica Som Livre.

Resenha Publicada em 16/11/2017





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