Resenha do Cd A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado /
Mutantes, Os
A DIVINA COMÉDIA OU ANDO MEIO DESLIGADO
MUTANTES, OS
1970
Por Lazaro Cassar
"A Divina Comédia Ou...", terceiro álbum dos Mutantes, fica páreo a páreo com os dois primeiros. Só que este, além de mais autoral que os outros, mostra a banda no ápice de sua inventividade e democracia, onde cada um exibia o melhor de si, sem roubar a cena de ninguém.
Rita Lee, com seu vocal tatibitate ("Quem tem medo de brincar de amor") e Buble Gum ("Hey Boy"), parecia uma Nara Leão endemoninhada. Sérgio Dias, guitarrista, extrapolava os limites da distorção na instrumental "Oh! Mulher Infiel". É memorável também o caótico solo de guitarra que encerra a faixa-título, juntamente com o órgão "doidão" tocado por Arnaldo Baptista.
Arnaldo, aliás, canta debochadamente o clássico da dor-de-cotovelo "Chão de Esmeraldas", incrementado por espalhafatosas onomatopéias. Fazem uma bucólica ode a Lúcifer ( "Ave Lúcifer") e ainda sacaneiam o Canto Gregoriano em "Haleluia".
No entanto, dois dos melhores momentos do disco estão na balada ‘Desculpe, Babe" e no Blues Janis-Jopliano "Meu Refrigerador Não Funciona", onde o supostamente banal título esconde outros sentidos. Rita poucas vezes em sua carreira exibiu uma performance tão histriônica quanto nesta faixa.
Era uma época difícil para o Brasil. Eram tidos como ameaça nacional qualquer veículo de mídia que insinuasse contextos não-adaptáveis aos padrões moralistas da época. No entanto, nunca uma banda nacional ousou tanto e com a mesma sobriedade como os Mutantes, desde então.
Resenha Publicada em 01/02/2010
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