Por Anderson Nascimento
Em “Afetivo”, álbum que comemora os quarenta anos de carreira de Mauro Senine, tudo remete ao título da obra, desde a tenra foto com o vira-lata Igor, que abre o encarte do CD, passando pelas fotos com os amigos e participantes do álbum, seus comentários, que brilhantemente pontuam cada canção do disco, até a foto, tirada por sua esposa Ana Luisa Marinho, quase em penumbra, que fecha o referido libreto do seu novo álbum.
Mauro Senise é flautista e saxofonista, e em reverência à data redonda, entrega-nos um álbum valioso, embebido de seu talento musical e da precisão que só a experiência é capaz de proporcionar a qualquer músico.
Entraram nessa veradeira homenagem e ode à música instrumental, músicos do naipe de Egberto Gismonti e Wagner Tiso, além de outros tantos competentíssimos colegas de profissão e de carreira, aos quais o artista escreve carinhosamente ao longo do encarte do CD.
A ternura que repousa sobre cada uma das onze faixas encanta o ouvinte e remete a tempos áureos, como no caso do combo “Feitio de Oração – Pra Que Mentir” (Noel Rosa e Vadico), onde Mauro presta uma homenagem à sua mestra Odette Ernest Dias, tocando com ela olho-no-olho, uma verdadeira obra de arte.
Em “Feita à Mão” (Mauro Senise), o músico cria ao som de seu Sax Alto e do piano de Hermeto Pascoal, revelando muito do entrosamento resultante da parceira de mais de sete anos, onde ambos tocaram juntos.
Em momento único do álbum, Edu Lobo empresta sua voz de timbre peculiar à “Choro Bandido” (Edu Lobo e Chico Buarque), acompanhado de Gilson Peranzzeta, parceiro de Senise há vinte anos, Zeca Assumpção, Ricardo Costa e o próprio Mauro, formação que Peranzzeta costuma chamar de “Orquestra dos Sonhos”.
Projeto inspirador, “Afetivo”, traz canções inéditas, propositalmente compostas para esse CD, caso da canção que dá título à obra, presente de Sueli Costa, e de “Tiê Sangue”, uma inédita de Jota Moares, que traz para a sua performance o grupo “Cama de Gato”, ao qual Mauro é fundador e integrante desde a primeira metade dos anos oitenta.
Tudo isso embalado com a costumeira qualidade que os lançamentos da gravadora Biscoito Fino se esmeram em manter.
Nesses quarenta anos de carreira, Mauro presenteia não só a si mesmo, mas a todos aqueles que curtem a bela e a poesia da música instrumental, que fala e encanta, afetivamente, sem dizer uma só palavra.