Por Pedro Martins
O principal deslize de Tropicália 2 foi, justamente, o que lhe garantiu tanto sucesso comercial: o título auspicioso, devido ao reencontro, em estúdio, de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ponto para os publicitários da PolyGram, e responsabilidade dobrada para os protagonistas baianos.
“Desde que o Samba é Samba” parece ter sido resgatada por Veloso da época áurea da Bossa Nova, tamanha a simplicidade, a originalidade e a qualidade da canção. A leitura tropicalista de “Wait Until Tomorrow”, de Jimi Hendrix, se destaca pelo uso extensivo da percussão e pela boa performance vocal de Gil e Veloso. “Cinema Novo” é um samba bem construído cujos versos traçam um panorama do cinema e da canção popular no Brasil. “Nossa gente”, de Roque Carvalho, é bem escrita e possui um ótimo refrão. O experimentalismo volta à tona em “Rap Popcreto”, uma colagem de fragmentos de antigas canções contendo a palavra “quem”. O material musical de “Haiti” é bastante limitado e pouco interessante, o que torna sua audição cansativa. O samba “Tradição”, de Gilberto Gil, é interpretado confortavelmente por Veloso. “As coisas”, parceria de Gil com Arnaldo Antunes, se destaca pela boa poesia e pela estética simples e direta do rock. A curta faixa “Aboio” lembra o minimalismo bem-sucedido de Jóia (1975), aqui, com a contribuição vocal de Gil. “Dada” é um poema concreto musicado de maneira simples, porém eficiente. “Baião Atemporal” traz os principais elementos melódicos e harmônicos do gênero, intocados propositalmente, como sugere o título da canção. Há, ainda, uma releitura de “Cada Macaco no seu Galho”, de Riachão (Clementino Rodrigues).
Tropicália 2 realiza com sucesso o propósito de reunir elementos locais e universais na construção de uma sonoridade singular: brasileira e cosmopolita. Ao longo do disco, violões, flautas e percussões figuram ao lado de guitarras, teclados e baterias. Os arranjos são bem concebidos, variando da sofisticação de “Cinema Novo” e “Tradição” à objetividade de “As Coisas” e “Nossa Gente”.
O material autoral e inédito em Tropicália 2 é bem reduzido: destacam-se “Cinema Novo”, “As Coisas” e o clássico moderno “Desde que o Samba é Samba”. Ainda assim, as leituras apresentadas fazem jus à envergadura dos intérpretes, e mantêm certa coerência com a proposta do disco. De volta ao deslize, Tropicália 2 é um disco mequetrefe: de conteúdo pouco pretensioso, apesar do título ousado e, para muitos, fora de propósito.