Por Anderson Nascimento
Após o trágico acidente que ocorreu com Herbert Vianna, e a sua reabilitação, a banda lançou o bom e seco álbum "Longo Caminho", as músicas, que já vinham sendo compostas ateriormente ao acidente, foram terminadas e gravadas, gerando o primeiro álbum da banda desde o acidente.
No caso do álbum "Hoje" a coisa é diferente, o tempo passou, a carreira continuou, porém inevitáveis marcas do acidente aparecem neste disco. Logo na faixa de abertura, Herbert dá uma dolorosa declaração a respeito das mudanças que o acidente causou em sua vida: "...mas o destino me deixou na mão, se assim, que não seja o fim, pois a luz da vida ainda brilha em mim...". De certa forma, seria mesmo difícil um compositor como Herbert não falar em suas músicas de um fato tão marcante. Esse aliás é um ponto ruim no disco, pois em outras faixas como "Passo Lento"e "Ponto de Vista": "...você aí em pé, você não deve saber, o que é a vida de quem sofre ao se mover...", Hebert fala sobre o mesmo assunto, com letras pesadas que chegam a causar um mal estar, se você prestar a atenção na letra.
Fora isso, o disco é muito mais produzido e alegre que o anterior, a própria faixa de abertura "2 A" tem essa cara de festa (apesar da letra sofrida), mas é um rockzinho com o frescor de uma banda que se recria nesse disco. A mesma coisa acontece com o primeiro single do disco "Na pista", a música lembra os próprios Paralamas no início de carreira, trazendo aquela tradicional levada latina da banda.
Em "Soledad Cidadão", parceria de Herbert com Pedro Luís, o disco apresenta a participação de Manu Chao, confirmando essa tendência clássica da banda em investir em sons latinos. Por falar em participações, o disco também traz Nando Reis, na bonita balada "Pétala", escrita pelo ex-Titãs, Adreas Kisser, Apollo 9 e Marcelinho da Lua. Tudo isso também indica a vontade de a banda fazer um disco no mínimo diferente.
Apesar de o disco ter poucas baladas em repertório, este novo trabalho é repleto de melancolia, em alguns momentos percebemos a força do instrumental do disco encobrindo estes sentimentos, como é o caso das músicas "Passo Lento" e "De Perto", que apesar de serem potenciais baladas, destacam-se pelo instrumental pesado.
Falando em pesado, a segunda metade do disco traz uma brilhante sequência de músicas roqueiras como há muito não se via a banda fazer. "Fora do Lugar, bela composição de Leoni tem tons soturnos, meio heavy metal, "220 Desencapado" faz lembrar o último disco do Lobão, a música é muito bem tocada pelo trio e cuspida por Herbert Vianna, tornando-a bastante interessante. "Ponto de Vista" meio que encerra o disco, com uma participação muito especial do Andreas Kisser, além de a voz do Herbert estar um pouco mais baixa que os instrumentos, o que a faz uma música extremamente roqueira, uma das mais pesadas de todo o repertório dos Paralamas.
O disco traz ainda duas faixas bônus "Deus lhe Pague" do Chico Buarque e uma versão "dub" de "Ao acaso", mas que pouco acrescentam ao disco como obra. Daí a falta que os cds-singles fazem ao Brasil, essas músicas poderiam muito bem estar disponíveis em singles como material extra.
No fim das contas, "Hoje", é um bom disco que mescla momentos tensos com momentos de desvairadas diversões, pode até ser que após esse "desabafo", Herbert siga em frente tentando esquecer o que aconteceu, separando o acidente de sua música.