Os anos 1980 sacudiram o Brasil em inúmeras áreas. Entre as principais delas estão política, entretenimento, saúde, economia e, principalmente a música. Nunca antes o país viu seu cenário musical crescer e definir a atitude de uma geração de jovens que buscavam alguma forma de se expressar, se tornando o público alvo em grande potencial. Ricardo Alexandre, que já dirigiu a revista Bizz, mostra relatos dessa década inesquecível em “Dias de Luta”. O livro voltou às prateleiras em sua segunda edição em 2013 trazendo algumas novidades e atualizações de conteúdo em relação à edição lançada originalmente em 2002. A mudança foi além da capa, que agora traz as bandas mais icônicas da época em desenhos pixelados em frente e verso. Mais anos 80, não há!
Em seu primeiro livro Ricardo Alexandre entrevistou quem mais entendia do assunto, os próprios envolvidos no cenário musical. Do início de 1996 até o fim de 2001 diversos cantores, músicos e produtores foram entrevistados pelo autor. Incluindo os saudosos Marcelo Fromer e Renato Russo.
O livro segue uma linha cronológica linear e com ótimo texto. Determinados assuntos são interrompidos e retomados mais adiante. O ponto de partida se dá com o surgimento do grupo Vímana (com Lulu Santos, Lobão, Ritchie, Luiz Paulo e Fernando Gama) na segunda metade dos anos 1970, passando pelo surgimento do movimento punk em alguns estados entre 1980 e 1983.
O surgimento de bandas como Titãs, RPM Barão Vermelho, Camisa de Vênus, Ira!, Kid Abelha e Paralamas do Sucesso, outras bandas mais engraçadinhas como João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, Blitz e Ultraje a Rigor são contadas com riqueza de detalhes. Problemas e curiosidades que todos passaram no decorrer da década, de em um lançamento mal sucedido de um EP ou disco, ataques, brigas, tumulto, troca de acusações, sexo, drogas, rompimentos, prisões, quebra de contrato, a exploração dos empresários, ou em bem sucedidas turnês pelo país, discos de ouro e shows de verdade. Todas as informações narradas por seus sobreviventes.
Fatos que transformaram o Rock nacional no mais puro produto Pop até o seu esgotamento quase definitivo no fim da década, o que forçou mais uma renovação no gênero quando outros ritmos roubaram o cenário. O trabalho das rádios FM (Fluminense, Cidade, 89FM) que foram de extrema importância pra divulgar todas as bandas de garagem que existiam também são muito bem destacados no livro.
“Dias de Luta” é um retrato digno de todo um legado musical. Talvez o primeiro registro que realmente mostra como cada passo dado, tanto em direção ao sucesso quanto em direção ao fracasso de cada banda, na visão dos próprios protagonistas que um dia conseguiram colocar a sua banda em evidência no dial de uma rádio FM, passando por programas de TV e fazendo shows, com e sem playback.
Ainda em 2013 o livro ganhou uma espécie de continuação com “Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar”, que tem resenha aqui:
http://www.galeriamusical.com.br/detalhes_livro.php?cod_livro=15