Resenha do Cd Tom Zé / Tom Zé

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TOM ZÉ
TOM ZÉ
1970

RGE
Por Guilherme Cruz

Em seu segundo disco, Tom Zé muda a forma de composição. Após a consagração na no festival da Record ele passa a desfrutar de certo prestígio, o que lhe confere a possibilidade de fugir a algumas regras de criação e execução, construindo, a partir deste disco, músicas mais livres com relação às suas estruturas.

“Lá Vem a Onda” traz, como no mar, o impulso que nos leva em direção à outra pessoa, em busca de quem nos completa. E, no final da letra, ouvem-se aliterações de sílabas pareadas que nos levam a imaginar os sons sexuais desse casal que se encontra “na casa dela”.

Criando de forma industrial uma peça musical surrealista ao estilo de Stockhausen, “Guindaste a Rigor” extrapola e expande os limites da criação.

No fim, a “Distância” torna-se o findar de tudo, apagam-se as luzes, calam-se os cantares e a dor se torna algo presente, quase físico. Seguindo a melancolia da perda que a música anterior versa, em “Dulcinéia Popular Brasileira” a perda é do sentimento de humanidade, nos versos “Chora mas não se demora/ Mora que ninguém dá bola” o sentimento alheio já não importa mais para esse mundo que corre sem demora, não podendo perder tempo. A industrialização da vida sentimental é tamanha para Tom Zé que é possível comprar “Sua fossa C vitaminada” e, também, comprar um saco plástico “Com a fossa bem concentrada”.

“Qualquer bobagem” vai refletir a comum confusão dos apaixonados, que se perdem e desconhecem seus verdadeiros desejos. Em contraste com as dúvidas do eu-lírico romântico, na música “O Riso e a Faca” o artista revela a certeza quanto a ser tudo o que quer. A busca por conter dentro de si todos os extremos, retirando sua força criativa do caos.

“Jimmy, Renda-se” coloca em prática a expansão artística proposta na segunda música, aplicando uma brincadeira sonora, com uma letra que mistura inglês infantil, português e uma homenagem escondida para Caetano, Gil, Gal Costa e outros artistas. “Me Dá, Me Dê, Me Diz” segue questionando as estruturas tradicionais da canção, trabalhando com as sonoridades das palavras, montando e remontando frases. Aqui ele utiliza o amor como poética para a canção.

Retomando o tema da separação, “Passageiro” é a clássica canção do adeus. O homem viajante que deixa um amor em cada ponto que para.

Tom Zé reelabora a ideia de Isaac Asimov na canção “Escolinha de Robô”, onde a modernidade, com sua estrutura mecânica, invade a sociedade e suas relações, robotizando nossas ações e consciência. Mas mesmo com tanta tecnologia, em “Jeitinho Dela” a ciência não descobre porque “Nos olhos dela/ Tem sol nascendo”, ou porque a “Cidade acabou se perdendo” por ela.

Finalizando o disco, Tom Zé cria uma música em homenagem à “Gravata”, e nos diz que ela é “Um processo freudiano/ Para a autopunição/ Com o laço no pescoço/ E a fé no coração”. Crítica clara a uma peça de vestuário que é carregada de significados dentro dos signos do mundo burguês.

O que este segundo disco traz é um artista mais solto, que se permite explorar a fundo o que sua poética e sua música lhe permitem em termos de criação. Dando-nos um disco criativo e inquieto.

Resenha Publicada em 23/08/2016





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