Resenha do Cd é / Duda Brack

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É
DUDA BRACK
2015

INDEPENDENTE
Por Guilherme Cruz

“Isso porque meu coração já rodou quilometragem/ E mesmo calejado tá latejando/ Cheio de belezas acesas a explodir”. Conheço poucas coisas que podem afirmar que são. Principalmente quando essa afirmação vem em poucas palavras. O disco "É" lateja e explode em oito canções com a força que as coisas têm quando elas devem acontecer. A voz que ruge rouca rasgando a roupa que a realidade veste é de Duda Brack, que acende seu ser, junto com um power trio, num disco de peso que poucos artistas dessa geração demonstram.

O disco já se abre rompendo com tudo num grito de “Não”. A música “Eu sou o ar” emerge com a força de um trator “Ultraindustrial” e o fio de dentes cortantes. A cisão vem ultra e total para tornar possível todos os nossos sonhos. Ao “violar o infinito e emergir no grito” “Vaza” é taxativa com o fim da relação, ao som de uma percussão quase tribal o verso “Quero que você...” tem a força de expressar milhões de sentimentos recalcados, nos libertando das crises que nos aprisionam na simples realidade de existir.

Quando o cenário é estéril como um avião sem navegador, uma canção sem melodia ou um setembro sem flor não há nada a ser feito, “nem mesmo mil latas de tinta” podem colorir a mundo à nossa volta, restando apenas ir embora, “meter o pé de vez”, rompendo com um passado desbotado em busca de novas paletas de cores. Esse rompimento vem em “Dez dias”, tempo que Duda necessita para poder esgarçar-se diante de nós, fazendo emergir de dentro de si o traço que nos permite sermos livres. Buscando a destruição de seu mundo, reconstruindo-o e ressignificando seus mistérios e conflitos existenciais.

A roda viva de se destruir e se reconstruir de Duda nos faz um convite sedutor. Ela nos chama em “Venha” para seguirmo-la da forma que for. Agressiva, de patins, meio triste, atrás de um trago ou até mesmo de vestido longo, não importa, o convite é para embarcarmos nessa viagem por inteiro. Quem irá recusar? Por consequência, na urgência da plenitude não cabe tempo perdido. A necessidade das resoluções se torna artéria da existência a dois em “Te ver chegar”. Não cabem meias palavras ou frases nubladas, a letra crua, de interpretação direta nos insere na vida de duas pessoas com “tanto a se resolver” sobre um “amor escancarado”.

O mundo novo, proposta a nós por Brack, traz o risco constante de se perder por caminhos desconhecidos. Novas direções podem nos levar ao erro de erigir perigosas fantasias, ou sermos perseguidos como leprosos pelo “povinho” que gosta de intriga. Contudo no caminho para Ser não pode haver dúvidas ou indecisões, pois elas criarão a corda que nos enforcará num cadafalso ou nos prenderá no falso mundo que criarmos.

E o que fazer quando o vento ou o tempo correm numa direção? Duda é clara neste aspecto, devemos correr na direção oposta. De forma direta em “A casa não cairá” ela dita os rumos de seu caminho, “Se não for nessa rua, eu entro na outra”, “Se não for, eu vou assim mesmo”. Na literatura “casa” é alegoria clássica do Eu, e o Eu de Duda não cai diante do mundo e nem cairá, gritando o mais alto que pode contra todos que pensam em prendê-la: “Não deu eu vou voar”.

Resenha Publicada em 01/08/2016





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