Resenha do Cd The Suburbs / Arcade Fire

THE SUBURBS title=

THE SUBURBS
ARCADE FIRE
2010

UNIVERSAL MUSIC
Por Roberto Feliciano

Vamos esclarecer de uma vez por todas: comparar qualquer um dos vários discos de rock desta década com Neon Bible é uma covardia sem tamanho. Vendo por esse lado então, também não dá para comparar o já citado segundo disco do Arcade Fire com o recém lançado terceiro trabalho: The Suburbs.

Correndo o risco de errar contra minha própria verdade, fiquei feliz em constatar em um primeiro momento que este é, musicalmente, o disco mais pop da ainda curta carreira da banda. Dá para sentir logo de cara a melodia assobiável na faixa de abertura, que leva o título do álbum. Isso, no entanto, não muda a faceta da banda. “Rococo”, por exemplo, é tudo aquilo que talvez esperássemos do grupo que fez um dos melhores discos dos últimos anos. Então, se decidirmos quebrar minha primeira regra, esse talvez fosse o ponto de maior comparação.

Mas não se deixe enganar pelas melodias acessíveis e pela sonoridade que causa menos estranheza. A essência ainda está ali, principalmente na mensagem do disco como um todo, já que é impossível pensar nesse conjunto de canções de forma separadas, como o próprio grupo fez questão de estimular ao longo dos mais de sessenta minutos.

Um exemplo são as frases e termos que aparecem em mais de uma música, como “At first they built the road then they built the town” ou a descrição da vida teoricamente feliz nos subúrbios, com a sensação de “eu costumava”, acompanhada de palavras como sonhar, esperar, amar.

A impressão que fica após uma primeira audição é a de desesperança e dificuldade em lidar com a necessidade de se tocar a vida. Essa angústia é traduzida em letras que escancaram uma introspecção cada vez maior, principalmente quando Win Butler fala sobre envelhecer ou sobre o tédio dessa vida suburbana, que a cada minuto vai se mostrando, na realidade, infeliz. Para isso, recorre à infância, à adolescência e ao seu olhar hoje sobre esses períodos da própria vida.

E quanto mais nos aproximamos do fim do disco, as descrições pessimistas de mundo e de relacionamentos vão tomando forma. O portador dos sentimentos não deixa sobrar para ninguém, nem para si próprio, nem para os amigos que não reconhece mais. A cidade não é mais a mesma, os subúrbios onde costumava brincar agora não passam de sombra daquilo que foram um dia.

A beleza é o caminho, mesmo que seja o do fim. O interlocutor passa da esperança contida, para a desilusão forçada. Angústia, medo, dor, arrependimento. Está tudo lá, um desabafo nítido e gritado em nossos ouvidos. Pintando um painel por vezes apocalíptico, Butler nos mostra suas dores e as nossas próprias, tão motivadas pelos dias em que vivemos. E cada vez mais, não conseguimos seguir em frente, já que o passado distante é cada vez mais atraente aos olhos e corações.

No fim das contas, falei pouco sobre a sonoridade. Vale dizer que o Arcade Fire não perdeu a pegada e as influências aparecem a cada vez que se ouve o disco. Para os apaixonados pela obra prima anterior pode soar estranho. Mas quando saboreado com atenção, The Suburbs dá sequência de forma magistral à carreira desse grupo, que já virou a melhor banda desses tempos que eles, sutilmente, vão retratando.

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Publicado originalmente no blog Estante Catótica.

Resenha Publicada em 27/08/2010





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