Por Anderson Nascimento
O momento que Paul McCartney vivia no início dos anos oitenta era de muito trabalho, Paul entregara recentemente o multi-premiado “Tug of War”, álbum que se tornou rapidamente um clássico em sua discografia, e bons ventos sopravam de volta com o reconhecimento de um trabalho que provava que o mesmo Paul que havia bancado o experimental McCartney II, podia criar um disco de sucesso em um estalar de dedos.
“Pipes of Peace” foi nessa onda, repetindo a mesma fórmula do álbum anterior, espelhando o seu conteúdo no sucesso de apenas um ano antes. A saber, o disco apresenta como carro-chefe a participação especial de um renomado artista – em “Tug of War” Stevie Wonder, aqui Michael Jackson – Ringo Starr, George Martin, Erick Stewart e Denny Laine estavam no estúdio novamente com Paul.
Fora o fato de músicas como "Pipes of Peace", "The Other Me", "So Bad", "Tug of Peace" e "Through Our Love", apesar de retrabalhadas, serem originárias das sessões do álbum anterior.
Paul ainda andava ocupadíssimo colhendo os frutos de “Tug og War”, gravando o seu filme “Give My Regards to Broad Street”, que seria lançado no ano seguinte, o que talvez tenha influenciado e gerado o irregular “lado b” do álbum.
Apesar do sucesso de faixas como “Say, Say, Say”, gravada em parceria com Michael Jackson, da épica “Pipes of Peace” e da bela “So Bad”, críticas sobre o álbum foram inevitáveis, talvez até de maneira injusta, mas muito delas ainda evocadas devido a sombra da qualidade excepcional de “Tug of War”.
Fora os singles, o álbum ainda brinda o ouvinte com canções do quilate de “The Other Me”, da Pop “The Man”, segunda parceria com Michael Jackson no álbum, e da balada "Through Our Love", redentor momento mágico que fecha o álbum.
Por outro lado, compondo o lado b do formato original em vinil, canções como a tríade "Average Person", "Hey Hey" e "Tug of Peace", engrossam o côro da crítica contra o álbum, e cá pra nós, realmente não estão entre os momentos mais interessantes de Paul McCartney.
Algo que passa um pouco despercebido no álbum, porém, é a mistura promovida por Paul McCartney entre experimentalismo, música Pop e até ecos de sua fase setentista com os Wings. Algo desse nível por ser percebido em “Keep Under Cover” e "Sweetest Little Show", que conseguem ser moderna e retrô ao mesmo tempo.
De qualquer forma “Pipes of Peace”, apesar de não figurar no primeiro escalão dos melhores álbuns de Paul, é um bom álbum e apresenta pelo menos dois clássicos de seu repertório, além de um punhado de boas músicas.
No ano seguinte Paul McCartney lançaria a trilha sonora de seu filme, sucedido pelo álbum “Press To Play” de 1986, mas só voltaria a aliar sucesso de público e crítica novamente em 1989, quando lançou “Flowers in The Dirt”.