Por Tarcisio Sampaio
Led Zeppelin, a banda que trouxe ao final dos anos 60 a inovação musical que redefiniu a percepção dos ouvintes clamantes de novidades. Revitalizando a crueza do blues e sobrepondo ao mesmo o peso das guitarras distorcidas, os dois primeiros álbuns da banda, ambos de 1969, mostraram ao mundo uma nova maneira de se fazer o rock já consagrado, eles trouxeram mais peso, mais força e objetividade se tornando pioneiros do Hard rock e Heavy metal, junto a outros grupos já consagrados como Deep Purple e Black Sabbath.
Os anos 70 já estavam em corrimento e os adeptos da boa música esperavam um disco ainda mais pesado por parte da banda, que apresentou um estufamento do primeiro álbum para o segundo. Mas o Led Zeppelin surpreendeu e veio com um álbum diferente do material apresentado anteriormente, utilizando dessa vez não só influências do Blues mas de outros estilos. A banda criou um material variado e consistente que de previsível mesmo só tinha o nome: Led Zeppelin III.
A capa que traz uma colagem de figuras variadas e diferentes já revela a base de composições do álbum que viaja entre diferentes estilos, mas que na sua totalidade compõe o que é considerado por muitos o álbum mais eclético do Led.
Colocando a obra à teste o ouvinte é recebido com a grandiosa “Immigrant Song” que usa de atuações pesadas de Page, Jones e Bonham, e que junto a “Celebration Day” (música alto-astral) e “Out on the Tiles” (Led Zeppelin como só eles sabem ser) mantêm em pé de igualdade o som dos álbuns anteriores, notificando apenas algumas experimentações com eco e distorções no estúdio, uma vez que o próprio Page continuou na produção e conhece como ninguém o som que a banda tem e o que ela quer atingir. Completam o lado A “Friends” que começa a apresentar o ecletismo do álbum de forma até meio sombria, e “Since I’ve een loving you” que com mais de 7 minutos de duração coloca com maestria a influência do Blues no álbum, vale ressaltar os vocais sofridos – no bom sentido – de Plant, que usa da sua capacitância vocal pra passar todo sofrimento a quem escuta suas palavras.
“Decidimos sair e alugar uma casa de campo para fornecer um contraste com quartos de motel. Obviamente, ele teve um grande efeito sobre o material que foi escrito ... Foi a tranquilidade do lugar que deu o tom do álbum.” Esse trecho dito por Page nos ajuda a entender o que estava por vir na segunda metade do álbum, Page e Plant se alojaram em uma pequena casa de campo do século 18 localizada no País de Gales que não tinha nem energia elétrica, e dessa forma menos elétricos que a banda adiciona de forma muito forte uma nova influência no seu terceiro trabalho: O Folk, estilo musical que prega por bases de violão bem elaboradas, ritmo leve e bem cadenciado, e remete o apreciador a momentos calmos e naturais.
No lado B de Led III nos deparamos a primeira vista – ou audição – com “Gallows Pole”, que faz a transição perfeita entre o lado A mais energético para a calmaria maravilhosa da segunda parte do disco, essa música já utiliza menos guitarra e aposta em instrumentos diferentes como o violão e o Banjo mostrando assim a influência do Folk e até mesmo do Country que o Led voltaria a demostrar em futuros álbuns (escute a música Hot Dog e verá perfeitamente), o álbum segue agora em perfeita sintonia com a transição da música citada anteriormente, “Tangerine” é suave e trás uma bela harmonia de vozes no refrão, além de conter um solo cheio de feeling pra nenhum guitarrista botar defeito, ela vem seguida por “That’s the way” que utiliza bem o violão e o bandolim como cama melódica, e constrói aqui uma bela harmonia muito bem executada, e pra finalizar chegamos á “Bron-y-Aur Stomp” e “Hats Off To [Roy] Harper” duas músicas que continuam usando muito bem a gama de influências que a banda adquiriu, misturando Folk, Country, Rock entre outros. Para os ouvintes mais atentos recomendo observar como John Paul Jones começa a incorporar o teclado na música da banda (assim como faria de forma clara em “All my love” e “Kashmir”) e como a banda sofreu influências de música erudita, tais como a música indiana e oriental.
Led Zeppelin III está longe de ser o maior sucesso da banda, mas apesar das mudanças o álbum teve um ótimo desempenho comercial, atingindo o topo das paradas em vários países ao redor do globo. Com o passar dos anos o álbum tem sua importância reconhecida gradativamente, abrindo portas para a consagração de uma das maiores bandas da história. Essa obra mostrou ao mundo que o Zeppelin é uma banda de músicos extraordinários e que conseguem transitar entre nichos mantendo a classe e a competência e é até hoje um exemplo de diversificação bem construída, de incorporações estilísticas variadas e de como unificar estilos musicais de forma inteligente e eficaz. Certamente é uma ótima porta de entrada para fãs de Folk que desejam adentrar a discografia da banda inglesa além de dar uma nova faceta aos que já conhecem os seus trabalhos mais famosos. Recomendo.