Resenha do Cd Revolver / Walter Franco

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REVOLVER
WALTER FRANCO
1975

CONTINENTAL
Por Johnny Paul Soares

Gostaria de entrevistar Walter Franco em qualquer oportunidade para saber o que o cara pensa hoje em dia a respeito de Revolver, sua obra-prima absoluta muito à frente de seu tempo. Seria um prazer! Aliás, nos quase 43 anos de seu lançamento, Revolver continua intacto em sua forma mais sólida possível na fusão entre poesia inteligente cheia de novas possibilidades com o gancho entre rock e MPB, em flertes ricos com música psicodélica.

Walter Franco, depois do excelente “disco da mosca” (1973), ainda soube caminhar por terrenos sólidos para compor um dos mais belos capítulos da música brasileira, ainda que seja uma pena o artista não ter seu nome sempre lembrado como deveria, dispersando aos ares sua criatividade retumbante.

Sempre se deslocando pela vanguarda, ajudando de certo modo o desenvolvimento da música brasileira até então (na ressaca do movimento tropicalista), Walter Franco nos propõe um lírico-musical acompanhados de hipnótica levada em Revolver, nada parecido com o que nomes fortes da caixa faziam no período: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, etc., apenas para citar alguns.

Walter estava sobrevoando na magia do estereótipo perfeito da imaginação popular, com inteligência, mas faltou a digestão do grande público. Mesmo assim, passados quase 43 anos, o disco mantém um significado único de riqueza sonora e miscelânea de sentimentos adversos em suas inúmeras texturas potencializadas em efeitos de estúdio. Em se tratando de comentar sobre as faixas, falar sobre a abertura com Feito Gente, com suas camadas pesadas e pegajosas, um proto-punk emergindo em meio à um obscuro terreno de ar denso, já consegue explicar o que o decorrer do álbum trabalha no giro da agulha.

Nos dias de hoje, com a música (nem todos os segmentos, claro) cada vez mais “fácil”, de letras quadradas e melodias polidas na base do 4/4, a audição precoce de Revolver pode parecer loucura, vide os complexos andamentos e as já citadas letras que vão na contramão do que jamais fora criado. De primeira viagem, a interpretação flácida pode ocasionar no abandono do disco às escuras, mas com paciência é possível entender o por quê desse maravilhoso trabalho figurar-se entre uma das mais lindas obras já registradas neste solo verde e amarelo. Levei comigo estas palavras quando finalmente ouvi Revolver de ponta à ponta pela terceira vez.

Revolver (nada a ver com o homônimo dos Beatles, de 1966, mas sim com o verbo “revolver”), foi gravado em outubro de 1975 e lançado pela Warner Music Brasil. É interessante como podemos nos orgulhar de artistas como Walter Franco, que acabaram optando por fugir do padrão comum muito usado na época com linhas melódicas e afins, mas sim sugerindo para si mesmo uma direção de muita qualidade, como disse, na vanguarda da coisa. Adicione Revolver à sua playlist e veja como é bom conhecer coisas novas, seja ela lançada em qualquer década, melhor ainda quando são boas.

Resenha Publicada em 05/01/2018





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