Resenha do Cd Let The Bad Times Roll / Offspring, The

LET THE BAD TIMES ROLL title=

LET THE BAD TIMES ROLL
OFFSPRING, THE
2021

CONCORD
Por Thais Sechetin

Parece que a temporada de hiato de algumas bandas chegou ao fim em 2020 e 2021. Foi o caso de Midnight Oil, AC/DC e agora é o caso do Offspring. Após 8 anos do lançamento de Days Go By (em junho de 2012), a banda ressurgiu e lançou em 16 de abril o álbum Let The Bad Times Roll, com produção de Bob Rock pela terceira vez consecutiva.

O álbum é o reflexo do que a banda vê no mundo atual: Uma bagunça, mas com possibilidades da arte ver proveito nisso. Assim como a capa do disco ilustra uma espécie de Deusa da morte carregando nas várias mãos símbolos de todo o caos que vivemos, as faixas carregam violência, ironia, agressividade, mas também um pouco de sentimentalismo e até momentos divertidos. Ressaltando que pra gente conseguir se divertir hoje, temos que usar muito a arte de sermos criativos. E até isso a banda conseguiu retratar: Um exemplo é a versão punk da peça In The Hall Of The Mountain King, trilha incidental composta por Edvard Grieg, que foi muito utilizada em trabalhos da Disney e incorporada no disco “just for fun”.

A receita de Let The Bad Times Roll é uma dose de resgate dos álbuns de grande sucesso da banda: Americana e Conspiracy Of One, com mais uma dose de revolta pelo mundo de hoje, principalmente no que compete a alguns “ líderes” mundiais, uma certa medida de despretensão e, no final, altas medidas de paciência, já que o álbum ficou pronto em 2019, sendo inviável uma turnê de lançamento. A banda esperou o quanto pôde, fez todos os ajustes que consideraram necessários para deixá-lo de fato pronto até o recente lançamento.

A primeira mensagem, de This Is Not Utopia, mostra o som da banda como era nos anos 90,numa mescla entre o punk e o pop, onde o diferencial está mesmo na letra sobre violência, questionando quando a humanidade vai evoluir, se é que um dia vai evoluir.

Já Let The Bad Times Roll, fala explicitamente sobre as consequências causadas pela postura de alguns líderes mundiais. Expor esse tema é algo que a banda se responsabilizou em fazer, alegando não poder fechar os olhos para tudo o que anda acontecendo nos últimos tempos, com uma postura otimista ao deixar subentendido que o tempo passará, levando embora tudo de ruim. A música vem embalada em uma melodia pop/rock, como um single digno de representar a banda.

A pegada Pop Rock com letra provocativa se mantém em Behind Your Walls, e depois ouvimos Army Of One,onde riffs mais dinâmicos e uma pitada de surf music definem o ritmo da faixa. E o que define a letra é algo parecido com uma voadora no peito. A linha melódica da música lembra bastante o antigo hit The Kids Aren't Alright.

A batida veloz na bateria de Pete Parada e a agressividade das letras de Dexter Holland aparece em Breaking These Bones, enquanto a metade do disco vem pelo contraste de palmas, linha de baixo marcante, vocal seco e vocais de apoio fazendo coro que formam a faixa seguinte, Coming For You.

O outro single do álbum e na minha opinião, um destaque, é a divertida e despretensiosa We Never Have Sex Anymore,cujo ritmo me lembrou as músicas da banda Queens Of The Stone Age. Ela foge dos temas tão perturbadores do cotidiano, o cerne do disco, e conta a história tragicômica de um homem carente e infeliz em seu casamento morimbundo.

Essa quebra de seriedade nas letras se mantém com a já citada In The Hall Of The Mountain King. Dou uma dica pra quem não conhece a peça original,que é ouví-la para perceber que transformar música clássica em punk não foi impossível. O piano da original é de fato substituído pela barulheira do baixo, bateria e guitarra, mas a gente pode perceber algo em comum quando ambas as versões crescem em tempo, e como elas ficam mais aceleradas até chegar ao ápice.

Já em “Opioid Diaries” , podemos pensar em que tipo de vício os personagens da letra estão envolvidos: se são por escolha própria ou se eles se viciaram em remédios para curar qualquer um dos grandes males do milênio. Em seguida, a faixa Hassan Chop alcançou o platô punk e pesado do disco.

A penúltima música é uma releitura em voz e piano de Gone Away, que faz parte do álbum Ixnay On The Hombre, de 1997. A versão mais recente já era tocada em shows a aprovada pelos fãs, então a banda decidiu oficializar a versão e deixá-la antes de Lullaby, uma vinheta de encerramento de pouco mais de um minuto que reforça a mensagem "Don't ́ be thinkin ́ we ́re crazy/ Oh baby let the bad times roll”. ( “Não pense que somos loucos/ Deixe esses tempos ruins rolarem…”)

De acordo com Noodles, o guitarrista do Offspring,para eles tocar não é um trabalho e sim um hobby. E isso nos ajuda a entender a despretensão de lançar discos a cada 3 anos ou até com pausa de quase uma década, como foi o caso de Let The Bad times…E são vários os exemplos de trabalhos artísticos despretensiosos que tornam-se verdadeiros símbolos. Honestamente, eu não acredito que esse seja o caso de Let The Bad Times Roll, ainda mais se comparado com Americana e Conspiracy Of One. Mas para mim, desses três citados ele já é o meu favorito.

Resenha Publicada em 24/04/2021





Esta resenha foi lida 1283 vezes.




Busca por Artistas

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z



Outras Resenhas do Artista


Outras Resenhas