Por Anderson Nascimento
Em seu primeiro lançamento do ano de 2015, o Selo Discobertas coloca no mercado o seu novo box “Jorge Mautner – Anos 80”. O período é uma fase pouco explorada do artista, marcada pelo lançamento de apenas três álbuns, que ganham a companhia do inédito disco “O Poeta e o Esfomeado”, show realizado em parceria de Gilberto Gil e do percussionista Reppolho no ano de 1987.
No geral o conteúdo dos discos é bastante interessante. Cada álbum tem uma peculiaridade e são bem distintos entre si.
“Bomba de Estrelas” (1981) é um interessante trabalho que, como o nome sugere, conta com uma galáctica turma acompanhando Mautner ao longo do disco. Os artistas participantes são Gilberto Gil, Moraes Moreira, Caetano Veloso, Zé Ramalho, Robertinho do Recife, Pepeu Gomes, Amelinha e Nelson Jacobina, além de Liminha e Chico Neves, que ficam a cargo da produção do disco. Os mesmos proporcionam momentos incríveis como a deliciosa “A Força Secreta Daquela Alegria” (Gilberto Gil, Jorge Mautner), faixa que abre o disco; a divertida “Encantador de Serpentes” (Robertinho do Recife, Jorge Mautner), canção que conta com Robertinho do Recife na voz e guitarra; e “Tá Na Cara” (Moraes Moreira, Jorge Mautner), outro grande momento do disco. Como bônus o álbum inclui o compacto lançado pelo artista pela Epic em 1979.
“Antimaldito” (1985), álbum que brinca com o rótulo que Mautner já carregava à época, foi produzido por Caetano Veloso e é um disco construído sobre cama eletrônica, esquema que estava em evidência na época. O álbum abre com a explosiva “Cinco Bombas Atômicas” (Jorge Mautner, Nelson Jacobina) e, entre outros bons momentos, traz a louquíssima “Cachorro Louco” (Jorge Mautner); a política “Corações, Corações, Corações” (Jorge Mautner, Nelson Jacobina); e a panfletária “A Bandeira do Meu Partido” (Jorge Mautner). O disco também se serve do momento que vivia o Brasil na época, com o fim da ditadura. No fim, o CD ainda apresenta duas raras faixas inéditas.
Já o inédito “O Poeta e o Esfomeado” (1987), traz o registro do show de mesmo nome realizado por Mautner, Gilberto Gil e o percussionista Reppolho. De tom político, o disco inclui canções de Noel Rosa, Ismael Silva, e dos próprios Gil e Mautner, além de trazer uma série de leituras de textos de motivações filosóficas, humanistas e libertárias, que intercalam as canções.
Fecha a box o disco “Árvore da Vida” (1988), dividido com o falecido Nelson Jacobina (1953 - 2012) e gravado ao vivo no estúdio, no esquema voz, violão e violino. O álbum traz apenas metade de suas composições inéditas, entre elas está “Yeshua Bem Joseph” (Jorge Mautner), faixa onde Mautner fala sobre Jesus. Destacam-se entre as belíssimas gravações do disco as faixas “Menino Carnavalesco” (Jorge Mautner), “Maracatu Atômico” (Jorge Mautner, Nelson Jacobina) e a faixa título “Árvore da Vida” (Jorge Mautner, Nelson Jacobina).
Os discos contam ainda com encartes com as letras das canções, reprodução de capa e contracapas dos discos originais, além de textos escritos por Renato Vieira que apresentam e contextualizam cada disco.