Por Anderson Nascimento
Não que Jeff Lynne, cérebro por traz do Electric Light Orchestra (ELO), estivesse esquecido, mas é verdade que o mundo da música teve a oportunidade de tê-lo mais presente nos últimos anos. Vários filmes incluíram recentemente músicas célebres de sua banda mais famosa, além disso, Jeff também figurou em tributos diversos, documentários e, obviamente, trabalhou em produções de discos de vários artistas.
Jeff tentou uma volta em 2001 com o álbum “Zoom”, depois de comprar os 50% restantes da marca ELO de seu outro fundador, o baterista Bev Bevan. Lynne chegou a fazer alguns shows, gravou DVD, mas esta ainda não era a “volta” que os fãs, e talvez o próprio Jeff, gostariam. Tanto que a turnê do álbum que vinha sendo planejada acabou cancelada repentinamente.
Em 2012 Jeff regravou os clássicos do ELO com versões atualizadas, pois de acordo com ele mesmo, na época em que as canções foram originalmente gravadas, era impossível que as mesmas atingissem a qualidade sonora que ele desejava. Nessa época vieram também alguns outros lançamentos, como o álbum de covers “Long Wave”, o inédito disco ao vivo “Electric Light Orchestra Live” (2013), gravado na época do “Zoom”, e relançamentos, como o do próprio “Zoom”, e de seu primeiro álbum solo, “Armchair Theatre” (1990).
O cenário estava pronto para que o principal acontecimento recente de sua carreira acontecesse, a sua apresentação no Hyde Park, em Londres, onde Jeff tocou para mais de 50 mil pessoas, em 2014, em um evento que marcou a sua primeira apresentação em um concerto dessa magnitude em 28 anos.
Jeff estava então pronto para soltar o seu mais novo álbum de inéditas, “Alone In The Universe”, primeiro disco em que o artista passou a assinar “Jeff Lynne’s ELO”. Seu primeiro single, lançado dois meses antes do álbum, surpreendeu a todos com canção e videoclipe revisionista, que passa por todas as fases da carreira do artista, desde a sua infância até os dias de hoje, passando, claro, por The Move, ELO e Traveling Wilburys.
Apesar de todo esse cenário positivo, o disco não é aquele álbum perfeito, tal qual se espera de um disco de Jeff, embora mantenha a qualidade e o requinte sempre presentes em seus trabalhos. Fora o ótimo single “When I Was a Boy”, o disco tem outros momentos bacanas como o semiblues “Love and Rain”, um dos novos rebentos preferidos de Jeff Lynne, e a espacial “Alone In The Universe”, faixa que dá nome e fecha o disco, com uma leve tendência eletrônica, trazendo um quê de modernidade ao disco.
Quando Jeff relê a sua assinatura musical, caso escancarado no Rock “Ain’t It a Drag”, ele se sai muito bem. Isso também ocorre na balada arrastada “All My Life”, faixa que tem aqueles vocais marcantes dos trabalhos produzidos por Jeff, destaca-se também a levada de bateria e a guitarra solo da canção. Falando nisso, “I’m Leaving You”, canção feita em tributo a Roy Orbison, é outro momento impressionante, dá pra imaginar o próprio Roy cantando a canção.
Produzido e gravado praticamente sozinho pelo próprio Jeff, o disco representa muito bem o seu legado, principalmente por mostrar por que artistas como Lynne se diferenciam da grande maioria dos artistas que estão por aí. Jeff é gênio, e seria muito bom se pudéssemos ver mais dele nos próximos anos.