Resenha do Cd Mccartney Iii / Paul Mccartney

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MCCARTNEY III
PAUL MCCARTNEY
2020

UNIVERSAL MUSIC
Por Anderson Nascimento

No momento em que escrevo este texto, o velho Macca está completando 79 anos. São décadas de serviços prestados não só à música, mas à cultura em geral, em trabalhos que envolvem também outros segmentos como artes visuais, cinema e literatura.

Por mais que Paul McCartney sempre tenha jogado nas onze, nunca foi complexo acompanhar a sua produção, pois o pragmatismo do nosso herói sempre deixou as coisas bem claras pra gente. No ramo da música, Paul soube dar uma pausa no popular para adentrar na música erudita, infantil e alternativa, neste último caso, de forma bem organizada com o seu projeto Fireman.

Em seu segmento mais conhecido, Paul sempre deixou bem delimitada a fronteira entre a sua era Wings e a sua carreira solo. Isso voltou a acontecer com o lançamento de McCartney III em dezembro de 2020, gravado em seu estúdio em Sussex, na Inglaterra, durante o lockdown, ou rockdown, como ressignificou Paul, necessário por conta da pademia provocada por causa do Covid-19.

O ouvinte mais desavisado (bota desavisado nisso!) pode não entender o porquê deste disco ser batizado com o “III”, uma vez que é sabido que Paul já lançou dezenas de discos. O terceiro volume da franquia que leva somente o seu nome, segue a iniciativa dos outros dois, ou seja, um disco onde encontramos (teoricamente) apenas o Beatle Paul conduzindo a produção, os instrumentos, as composições, os vocais, e a inspiração por trás de tudo.

Levei algum tempo para finalmente ter a audácia de escrever sobre este novo disco, como faço com boa parte dos lançamentos do Paul. E confesso que o disco causa um estranhamento quando o rodamos pela primeira vez, mesmo com tantos anos de beatlemania nos cornos.

Excetuando-se os singles, eu mantenho o ritual de ouvir um novo lançamento Beatle pela primeira vez apenas no formato físico, então demorei um pouco mais que as outras pessoas normais a ouvir na íntegra o novo rebento do Paul.

O disco inicia com a deliciosa “Long Tailed Winter Bird”, que retorna para introduzir a última música no final do disco. Aqui temos muito de “McCartney I”, ou seja, faixa essencialmente instrumental com letra minimalista, porém de alto significado a esta altura da idade de Paul.

O disco traz 11 canções que duram menos de 45 minutos em sua totalidade. Há muito instrumental, experimentalismo, e alguma pegada popular em certos momentos do álbum. O fã do Paul vai tentar traçar paralelos deste Macca com o Macca dos dois discos anteriores, e há sim, muito embora McCartney III seja um disco com a sua própria identidade.

Assim como em McCartney I Paul entrega o arrasa-quarteirões “Maybe I’m Amazed”, e em McCartney II Paul entrega “Coming Up”, aqui temos “Find My Way”, canção que mostra a monstruosidade de Paul, ao conseguir unir em uma mesma canção uma pegada experimental com nuance pop saborosa.

O disco divaga muito sobre vida, experiência e até um pouco sobre o que fatalmente vem depois disso tudo (ou não). “Pretty Boys” e “Women and Wives” são canções que tratam um pouco sobre isso tudo, há o velho e experiente observando a vida, o novo, e o passado, o que deu certo e o que deu errado, tudo sobre a ótica de alguém que já passou por tudo isso em sua jornada.

Após um momento de reflexão, Paul põe todo mundo pra dançar com a enigmática “Lavatory Lil”, canção que é uma espécie de partido-alto do Rock, há reminiscências das melhores práticas do Rock dos 1950, com uma azeitada de quem experimentou toda a evolução do Rock desde o seu início, ainda como menino, até o protagonismo que se ramificou a partir de uma justa reverência.

O lado mais Macca II pode ser sentindo em “Deep Deep Feeling”, canção repleta de climas que cercam o ouvinte por todos os lados, impedindo a óbvia pulada de faixa ao se deparar com 8 minutos de canção, em prol da expectativa pela próxima viagem climática que a canção vai apresentar no minuto seguinte.

Em “Slidin’” temos Paul se retroalimentando do som que ele ajudou a criar. Há um pouco de Zeppelin aqui neste faixa pesada que explora possibilidades incríveis, que podem ser percebidas em “McCartney III Imagined”, álbum lançado em 2021 que se desdobra com novas versões das canções de McCartney III, por outros produtores e DJs.

“The Kiss of Venus” mostra Paul explorando de forma brilhante a sua atual condição vocal, sua voz frágil se funde com o instrumental da canção, produzindo um resultado incrível.

“Seize The Day” é outro momento reflexivo do álbum, e sendo sincero acho que ela está mais para a pegada do “Egypt Station” (2018), do que propriamente para este álbum. Ainda assim é um dos meus momentos favoritos do disco.

Paul encerra o disco com a linda balada “When Winter Comes”, que vai relembrar momentos minimalistas abordados em toda a sua carreira, aqui com flerte com canções como as que evocam o bucolismo de McCartney I.

Sinto-me feliz como fã e agradecido ao universo por poder estar vivo e consequentemente ter tido a oportunidade de testemunhar esse álbum tão significativo na vida de Paul, ao ponto de dar sequência a uma ordem teoricamente encerrada em 1980.

McCartney III pode assustar sim, em um primeiro momento, mas vai por mim, com o passar do tempo algumas canções deste disco ficarão marcadas em sua vida e posicionarão este disco em um lugar muito importante na trilha sonora da sua vida.

Resenha Publicada em 19/06/2021





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