Nesse novo álbum de estúdio (o vigésimo desde “Eric Clapton” de 1970) encontramos um Eric Clapton ainda nostálgico, relembrando os sons e as músicas que fizeram parte da sua formação musical, em um processo que vem ocorrendo desde o álbum “Reptile” (2001) até o trabalho anterior “Clapton” (2010), passando até pelo álbum em parceria com Wynton Marsalis “Play The Blues” (2011).
Clapton vem revivendo e experimentando todas essas canções dos anos 1930, 1940 e 1950, mostrando que suas raízes vão alem do Blues e do Rock and Roll e ao mesmo tempo apresentando uma nova faceta de sua personalidade e amadurecimento como cantor, guitarrista e compositor.
Para quem já o vem acompanhado nessa jornada não estranhará a ausência do “Guitar Hero” nesse álbum, Clapton faz sua guitarra ser mais uma acompanhante no arranjo das músicas, deixando os longos solos de lado para explorar outros caminhos e texturas musicais.
Produzido por Clapton, Doyle Bramhall II, Justin Stanley, Simon Climie e lançado pelo seu próprio selo “Bushbranch”, o disco traz também a participação de alguns amigos de Clapton: JJ Cale, Chaka Khan, Steve Winwood e Paul McCartney.
“Gotta Get Over” (que foi o primeiro single a ser liberado para audição na internet), e “Every LittleThing”, ambas com uma sonoridade e pegada que lembram muito o som feito por Clapton no meio dos anos 1970, a primeira é a mais Rock do álbum e onde a guitarra de Clapton esta mais evidente com um Riff bem legal permeando a música e um Wah-Wah fazendo uma cama para a harmonia. Em “Every LittleThing” Clapton canta uma balada bem alegre com uma levada Reggae no refrão que contamina e nos faz cantar junto, aumentado o clima alta astral da canção.
O Reggae aparece também em mais três faixas: “Futher On Down The Road” que abre o álbum e que tem um “Que” a mais de Blues e “Your One and Only Man”, com sua letra apaixonada e singela e também no Refrão da Balada “Till Your Well Runs Dry” que poderia ser bem um out-take do disco “There's One in Every Crowd” de 1975.
Clapton presta sua homenagem a Gary Moore, com sua interpretação para “Still Got The Blues” em um contraste com a versão original de Gary que é gritante e avassaladora, típica das paixões que nos consomem quando somos jovens e imediatistas e de Eric tem uma pegada “Jazzy” bem legal que junto do acompanhamento no órgão Hammond de Steve Winwood dá um tom bem triste e emotivo a canção e que aliada ao solo da guitarra de Clapton fazem que essa versão se torne a de lamento de um homem de 60 anos que relembra um amor perdido com todo pesar que o tempo e a vida traz, com isso dando um outro sentido e amplitude da música.
A faixa que mais chama atenção é “All Of Me” que tem a participação até que um tanto quanto contida de Paul McCartney tocando baixo e fazendo um backing vocal que quase não se percebe sua voz de tão discreta. E é nessa musica que temos uma das melhore interpretações de Clapton tanto no vocal (lembrando um Ray Charles na fase da Atlantic Records) quanto na guitarra que leva essa gravação a um patamar acima das outras versões já gravadas anteriormente por Billie Holiday, Frank Sinatra, Bing Crosby entre outros.
“Angel” (com a participação de J.J.Cale) e “Born To Lose” trazem um pouco de Country & Western para o repertório do álbum com músicas confessionais e sinceras mostrando um Clapton que sabe o que é perder alguém, mas também conhece e canta as coisas boas que a vida traz.
Mesmo não tão evidente quanto nos discos anteriores, a guitarra de Clapton consegue ser bem notada, mesmo que de forma mais concisa em faixas como: “The Folks Who Live on The Hill” com um belíssimo som de vilão de nylon, no Jazz “Our Love is Here To Stay” e no Blues com levada Jazzística “Goodnight Irene”.
O resultado final do álbum é positivo (com exceção da capa do CD), mesmo que ele não nos conquiste por inteiro em uma primeira audição, mas se insistirmos mais algumas vezes, começaremos a reconhecer nas canções sons e emoções que se conectam ao algum momento de nossas vidas e essa pode ser uma das intenções de Clapton ao gravar músicas de um passado distante para grande maioria mas que ainda carregam em si todas as nuances de sentimentos, emoções e desejos humanos já cantados. E Talvez mais tarde esta seja uma das trilhas sonoras ideais para quando você quiser relaxar e pensar em tudo aquilo que você está passando ou já passou ou que ainda esta por passar e sentir ainda vivo.