Resenha do Cd Nossa Bandeira / Cesinha Pivetta

NOSSA BANDEIRA title=

NOSSA BANDEIRA
CESINHA PIVETTA
2013

PÔR DO SOM
Por Anderson Nascimento

Cesinha Pivetta é um cantor e compositor paulista que tem como característica marcante a dedicação ao Samba de Raiz em suas canções. Essa dedicação fica explícita nesse seu disco de estreia, gravado ao vivo em 2012, na Sala Guiomar Novaes, no complexo Cultural Funarte em São Paulo.

Mostrando desenvoltura já na primeira faixa “Alvorada de Dora”, que lembra o mais puro Samba de Raiz, e é um dos grandes destaques do disco. Aliás, essa aproximação com o Samba de raiz acontece em diversos outros momentos do disco, como em faixas como “Espera Maria”. Ao longo do disco, é interessante também sentir o “peso” do bandolim guiando o disco, ao invés dos metais, o que acaba aproximando ainda mais o disco da sua essência principal.

Envolvido com o Samba desde criança, Cesinha se inspirou no Samba de raiz a partir dos encontros mensais do Samba do Bule, roda de samba no qual é um dos fundadores, que ocorre mensalmente no bairro de Bom Retiro, em São Paulo.

O Samba de linhagem mais clássica também é outro elemento comum no disco de Cesinha, em “Jardim e Flores” temos um pouco dessa linhagem elegante que vem sendo praticada por diversos sambistas da nova geração como Moyseis Marques e Aline Calixto.

“Nossa Bandeira” revela a sua genética, já que a faixa foi escrita por seu pai César Vieira, e tem a sua estrutura baseada em Samba Enredo. Falando em Samba enredo, “Baquetas em Pedaços”, é faixa de lamúria pelo fim do carnaval, que mostra o apurado talento do jovem compositor para narrar de forma lírica histórias que fazem parte do dia-a-dia de muitos de nós.

A apropriada voz do cantor também favorece o resultado final do disco. Em “Cidadão Samba”, Cesinha chega a lembrar Zeca Pagodinho em sua interpretação. A faixa tem como um de seus compositores J.C. Botezelli, mais conhecido pela alcunha de “Pelão”, produtor responsável por discos clássicos do Samba, de artistas como Cartola e Adoniran Barbosa.

Em “Lamento de Uma Raça”, o anfitrião recebe o veterano Waldir 59, um dos mais antigos representantes da Velha Guarda Portela, onde juntos eles fazem uma ode ao Samba, em composição do portelense com o mestre Candeia. Waldir, no alto de seus 87 anos, volta no fim do disco, para encerrá-lo com a faixa “O Molho é Samba”, faixa de sua autoria.

“Bordão de Aço” é outro momento interessante, já que o Samba chega a citar a máxima de outro veterano do Samba, Nelson Sargento, que tem na frase “Samba, agoniza mas não morre”, como eterno lema. O arranjo da canção é outro atrativo, pois é composto de uma levada dotada de quebradas fora do trivial em seu andamento.

De conceituação pluralista, o disco também aborda outras vertentes, caso de “Nau Bretoa”, onde a questão negra é (re)tratada por Cesinha, em composição dele com Raul da Silva, com letra forte e arranjos que conseguem refletir o que a faixa defende em sua composição. A canção regional também está presente em “João Abade”, que ganhou um arranjo que mistura o Samba com elementos do cancioneiro nordestino.

Inspirada no quadro “A Liberdade Guiando o Povo”, do francês Eugène Delacroix, a arte gráfica do disco feita por André R. Lemos é outro atrativo do álbum, repleto de significados que vertem a revolução de 1830 na França, para bem brasileiros, tendo o Samba como motivação principal.

“Nossa Bandeira” é uma estreia impactante, que mostra ao Brasil a força da juventude que faz Samba se espelhando nos melhores momentos que o gênero já foi capaz de nos dar.

Resenha Publicada em 30/01/2014





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