Por Anderson Nascimento
Há de se aplaudir e reverenciar aquele que teve a ideia de agregar ao projeto Sambabook (que também inclui CD, DVD e Livro de Partituras) um livro que carrega o formato batizado de Discobiografia, ou seja, uma espécie de biografia contada através dos álbuns do artista homenageado.
A estreia do projeto apresentou a obra de João Nogueira, seguido pelo segundo título com a obra do Martinho da Vila, e agora apresenta o trabalho autoral de Zeca Pagodinho. Este terceiro livro da série Sambabook ganhou o título de “Deixa o Samba Me Levar”, fazendo um trocadilho com uma das mais famosas canções gravadas por Jessé Gomes da Silva Filho, o nosso Zeca Pagodinho.
O livro, escrito pela jornalista Jane Barboza, que também responde pela assessoria de imprensa de Zeca, e pelo também jornalista Leonardo Bruno, condensa a história musical de um dos maiores sambistas de nosso país e, atualmente, o mais popular entre os sambistas deste país.
Com prefácio escrito por Beth Carvalho e uma pequena introdução chamada “Numa estrada dessa vida”, o livro segue o bem sucedido formato da coleção, onde cada capítulo é intitulado, em ordem cronológica, por cada disco lançado pelo artista.
A história contada no livro aborda o surgimento de Zeca no meio artístico, e flagra também a ascensão e o estouro do pagode carioca em todo o país paralelamente ao lançamento do primeiro disco de Zeca Pagodinho, em 1986.
Como não poderia deixar de ser, o livro também aponta o declínio das vendagens de discos do Zeca partir de “Jeito Moleque” (1988), seu terceiro álbum; o desinteresse na divulgação do pagode por parte da gravadora; as trocas de gravadoras por parte do sambista; e o surgimento do pagode paulista, que substituiu em nível nacional a geração surgida no Rio de Janeiro na primeira metade dos anos oitenta.
Como canta Zeca na letra de “Quando a Gira Girou” (Serginho Meriti, Claudinho Guimarães) “Custou, mas depois veio a bonança...”. A volta por cima na carreira de Zeca se deu junto à acontecimentos como a assinatura de contrato com a Polygram, a contratação de um novo empresário e a profissionalização de seus shows, que o capítulo “Samba Pras Moças” (1995) chama de “o grande momento da virada” na carreira do sambista.
A partir daí o livro retrata o sucesso de Zeca Pagodinho crescer cada vez mais com discos históricos como “Deixa Clarear” (1996), “Hoje é Dia de Festa” (1997) e “Zeca Pagodinho” (1998), que formam uma incrível trilogia de sucesso que renderiam “Zeca Pagodinho Ao Vivo” (1998), seu primeiro disco a trazer os seus sucessos ao vivo.
Desde então Zeca nunca mais passou por momentos baixa na carreira. Na sequência da década de 2000, Zeca consolidou o seu sucesso, entremeado por bons álbuns e pelos dois álbuns acústicos “Acústico MTV (2003)” e “Acústico MTV 2 – Gafieira (2006)”, mas esta década será sempre lembrada por discos como os ótimos “Deixa a Vida Me Levar” (2002) e “Uma Prova de Amor” (2008).
Em um presente onde o conceito álbum infelizmente se encontra cada vez mais esquecido, trabalhos como o feito nessa série ajudam a apontar a importância dos álbuns, reafirmando que cada um possui suas peculiaridades, histórias de gestação e, principalmente, o fato de refletir o momento pessoal e artístico que o homenageado vivenciava à época do lançamento de cada trabalho.
E é isso que você vai encontrar nesse livro, detalhes importantes da carreira do Zeca, além de “porquês” que respondem a perguntas como: “Por que Zeca grava menos composições suas em seus discos mais recentes?”. “Deixa o Samba Me Levar” é um justo tributo ao homem reconhecido por seu trabalho artístico, mas que vem notadamente se destacando também como uma pessoa do bem.