Resenha do Cd Blues Breakers / John Mayall

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BLUES BREAKERS
JOHN MAYALL
1966

DECCA RECORDS
Por Valdir Junior

Este com certeza é o disco que consagrou e colocou o nome de Eric Clapton no “Hall of Fame” dos Guitarristas, registro da época em que Clapton permaneceu na Banda de John Mayall, fase que é considerada uma de maior amadurecimento dele enquanto guitarrista e músico, tocando com os Blues Breakers ele pôde tocar aquilo que mais amava, do jeito que considerava o certo e ainda se dedicar mais e mais em estudar o Blues em todos seus aspectos, conhecendo todos seus caminhos, cultura, macetes e lendas.

Tendo em John Mayall um tipo de mentor já que este dividia com ele um amor quase na mesma intensidade ao Blues e também tinha uma das maiores coleções de discos de Blues da Inglaterra e tentando estabelecer uma maior proximidade com seu novo pupilo (e também para poder ficar melhor de olho no comportamento de Clapton) John Mayall o trouxe para morar em sua casa, deixando-o a vontade para estudar nota por nota de sua coleção e dividindo longos papos sobre o Blues com ele.

Com Clapton na Banda os Blues Breakers conseguiram alçar um patamar ainda maior no cenário de Blues na Inglaterra e as performances de Eric incendiavam a plateia e atrai cada vez mais fãs e seguidores para a banda. Por essa época e que começaram as pichações nos muros de Londres com a frase “Clapton is God”.

Mesmo já tendo feito algumas sessões de gravações com Clapton, com musicas que acabaram saindo em compactos e compilações na época, John Mayall queria gravar um álbum mais forte que registrasse esse período. Seu plano original era gravar um disco ao vivo mostrando todo o potencial e energia que a banda tinha no palco, mas após uma tentativa frustrada de registrar um show no Flamingo Club, ele abandonou a ideia do disco ao vivo e as sessões de gravação se realizaram em Março de 1966 nos Estúdios da Decca em West Hampsted –Londres.

As sessões foram um tormento para os técnicos do estúdio, Clapton não abria mão da maneira com que queria que o som de sua guitarra fosse gravado, deixando o volume de seu amplificador Marshall “no talo”, querendo atingir o timbre que ele fazia no palco e saturava o pequeno espaço do estúdio deixando quase todos surdos .O repertorio do disco apresentava o que vinha sendo tocado nos shows: músicas de Robert Johnson, Otis Rush, Freddie King, Ray Charles e originais de John Mayall.

Da primeira nota do Riff de abertura de All Your Love ao fraseado final de It Aint Right a guitarra de Eric Clapton segue os caminhos musicais trilhados por seus ídolos mas não deixa de mostrar sua própria personalidade e com isso definiu o parâmetro ao qual os discos de Blues seriam feitos na Inglaterra a partir dali.

Bons exemplos disso são as faixas : Hideway (Freddie King) , What’d I Say (Ray Charles) onde além de criar na guitarra blocos de notas normalmente tocadas no piano faz uma citação bem humorada do Riff de Day Tripper dos Beatles no meio do solo de bateria e Ramblin’ On My Mind (Robert Johnson) que foi o seu primeiro registro vocal a ser gravado e onde de forma muito tímida mas não fraca transmite todo o sentimento de solidão que a musica traz.

Em Little Girl (John Mayall) Clapton toca com uma garra e urgência que cria um perfeito acompanhamento, dando ainda mais força a angústia da letra e permanece uma de suas grandes performances até hoje; Steppin’ Out (Bracken) Clapton faz um fraseado com sua guitarra que duela o tempo todo alternadamente com naipe de sopros e o órgão tocado por John Mayall, com tanta destreza e segurança e já mostrando o trabalho que ele desenvolveria ainda mais no Cream e no decorrer de toda sua carreira.

Quando o disco foi lançado em agosto de 1966 Eric Clapton não mais tocava com John Mayall e já havia unido forças a Jack Bruce e Ginger Baker, mas deixou uma lição muito importante que esse disco até para os dias de hoje: a de como a paixão, entusiasmo e dedicação de um jovem de 20 anos, que de certa forma até um tanto idealista com um estilo de musica, não deixou se levar por modismos ou mesmo interesses de terceiros e soube apreender com seus próprios erros e se tornou no sentido mais profundo da palavra “um guitarrista que toca com a alma e o coração”, mesmo com ele sagrando e sofrendo como aqueles dos seus heróis, os “Bluesmen” do Mississipi ou de Chicago.

Resenha Publicada em 07/02/2013





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