Resenha do Cd Zii E Zie / Caetano Veloso

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ZII E ZIE
CAETANO VELOSO
2009

UNIVERSAL MUSIC
Por Cyro Salgado

Na frente da capa, Zii e Zie promete trazer transambas e Caetano. No verso, assegura transrocks e a bandaCê. De fato, tudo isso está no disco, arranjado com algum desconforto em um conjunto de canções que busca a desproporção, a estranheza e o barulho. Não se sabe ao certo onde acaba cada gênero, mas um encontra, toca e atravessa o outro. Ousado, porém sem provocar ou causar espanto, Caetano apresenta um álbum que parece não querer estar pronto.

Logo no começo da obra, Perdeu surge seca para contar as mazelas de um personagem que “cresceu, vingou, permaneceu, aprendeu nas bordas da favela”. Coerente com o tema, na canção, o rock passa pesado pelo samba. Um transrock. Porém, às vezes, acontece o oposto. Em outro momento do álbum, Falso Leblon narra as aventuras de uma garota da zona sul às voltas com “ecstasy, bala, balada”. Então, como contraponto, Caetano apresenta um transamba. Gostoso e leve, mas tão punk quanto pode ser o Leblon.

Não são apenas gêneros e temas que se cruzam em Zii e Zie , mas gerações também. Convocados após o sucesso do cultuado Cê , lançado em 2006, Pedro Sá, Marcelo Callado e Ricardo Dias Gomes não apenas são coautores dos transambas e transrocks de Caetano, mas conduzem e enaltecem a proposta do álbum. Em Incompatibilidade de Gênios , de João Bosco e Aldir Blanc, e Ingenuidade , de Serafim Adriano, os rapazes alteram os andamentos, arrastam as levadas e dão aos sambas gravados por Clementina de Jesus, em um LP de 1976, um tratamento moderno, que perde na descontração, mas ganha no rock, na força e no contraste.

Mesmo cercado pelo frescor da bandaCê, como quem não percebe, Caetano busca elementos no passado para compor as canções do recém-lançado álbum. Na exuberante A Cor Amarela , o poeta lança mão do talento e da bagagem que sabe ter para desenhar “uma menina preta de biquíni amarelo”, sob palmas de samba de roda, “entre o mar e marrom”. No quase frevo Menina da Ria , outra moça preta, “de lá do outro lado da poça”, surge em cena, mas não no Leblon. Ela está na Ria de Aveiro, em Portugal. Quase tão longe quanto o Menino do Rio , dos anos 70, ou a Base de Guantánamo , tema do rap-mantra de Zii e Zie que lembra o Haiti .

Sempre ao lado da bandaCê, Caetano faz um voo além-mar, outro para Cuba, mas quer mesmo estar no Rio de Janeiro. Desde a capa, que parece ilustrar a canção Sem Cais com um flash do Leblon, captado por uma Lomo, Zii e Zie soa carioca. Pelo menos, no conteúdo. Na abrangente Lapa , tudo cabe no bairro “cool e popular” desenhado pelo poeta. “Choro e rock'n'roll”, “Guinga e Pedro Sá”, “Lula e FH”. “Falta o mundo ver”. Até mesmo em Lobão tem Razão , o Redentor abre os braços, pronto para abraçar o cantor.

Fruto, em grande parte, do blog Obra em Progresso, lançado há cerca de um ano e recém-fechado, Zii e Zie comporta tantos assuntos quanto a internet. Na crescente Tarado ni Você , Caetano ataca de poeta concretista. Em Diferentemente , convoca Deus e o mundo. Estão lá, Ele, Madonna, Osama e Condoleezza. Quando para de olhar para os lados, chega à estranha Por Quem? , que parece estar três anos atrasada, mas convence com um gostoso falsete. Longe da fórmula de Cê , Zii e Zie não ganha, nem perde do antecessor. Não se trata de algo acabado, mas de uma obra que acerta ao transcender qualquer processo para transformar a desordem em progresso

Resenha Publicada em 17/04/2009





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