Resenha do Cd O Que Você Quer Saber De Verdade / Marisa Monte

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O QUE VOCÊ QUER SABER DE VERDADE
MARISA MONTE
2011

EMI MUSIC
Por Anderson Nascimento

Da mesma forma como um conta-gotas vai restringindo a vazão de determinado produto em pequenas doses, a cantora Marisa Monte gotejou mais um pouco de seu talento em seu novo álbum, primeiro em cinco anos, desde que lançou em 2006 os co-irmãos “Infinito Particular” e “Universo Ao Meu Redor”. “O Que Você Quer Saber de Verdade” é apenas o oitavo álbum de estúdio da cantora em vinte e cinco anos de carreira.

Como qualidade é muito melhor que quantidade, a cantora vem prezando pela excelência em álbuns bem gravados e requintadamente produzidos, nesse caso, por ela mesma e pelo músico Dadi, presença constante ao longo das quatorze canções do disco.

O novo capítulo da discografia de Marisa Monte inicia com uma canção de tons que mesclam o lirismo com tonalidades populares, formato muito particular no caso das canções assinadas pela cantora e pelos outros dois Tribalistas Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, fazendo da faixa que dá nome ao disco um belo convite ao célebre imaginário da cantora.

A canção “Depois”, um dos singles do disco, também assinada pelo trio, segue a mesma linha, só que desta vez a canção, uma balada, entra de solo no terreno romântico, proporcionando o momento mais belo do álbum.

Canções como “Era Óbvio”, e, principalmente, “Aquela Velha Canção”, que consegue ser ao mesmo tempo brega e deliciosa, faz o disco se aproximar ao popular “Memórias Crônicas e Declarações de Amor”, lançado em 2000.

Já músicas como “Amar Alguém”, “Hoje Não Saio, Não”, “O Que Se Quer”, canção com o Hermano Rodrigo Amarante, estão mais próximas de discos como “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão”.

O disco traz também instrumentos tipicamente interioranos, como acordeom, bandolim, viola de seis cordas, que estão bem distribuídos no disco, e assumem a responsabilidade pela sonoridade com tons de chão-batido na maior parte do álbum.

Ainda que esteja espalhado entre algumas nuances, o disco em momento algum roça a homogeneidade, e, consciente, parte pro Tango em “Lencinho Querido”, apontando pra frente em “Ainda Bem”, já um hit desse lançamento.

Falando nisso, perceptivelmente, há no disco influências de artistas da nova geração como Marcelo Jeneci, que inclusive assina a música “Hoje Não Saio, Não”, juntamente com Arnaldo Antunes, Betão e Chico Salem, o que consegue garantir ao disco um meio termo entre os trabalhos anteriores e esse novo rebento, resultando em um álbum precisamente particular. Ainda sobre o tema, é importante fazer uma menção honrosa a Domenico Lancellotti, que dá um show na performance da bateria da canção “Descalço no Parque”, antiga canção de Jorge Benjor, regravada por Marisa aqui nesse álbum.

Entre momentos menos ressonantes como a ode à vida bem vivida “Seja Feliz” e a minimalista “Bem Aqui”, curiosamente as duas últimas faixas do disco, Marisa consegue novamente entregar um bom disco, adornado pela presença onírica de sua voz e cercado de bons e competentes amigos, provando que ela continua sabendo dosar perfeitamente a sua carreira, assim como faz um conta-gotas.

Resenha Publicada em 08/03/2012





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