Resenha do Cd Transa / Caetano Veloso

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TRANSA
CAETANO VELOSO
1972

UNIVERSAL MUSIC
Por Pedro Martins

Transa consegue capturar uma sonoridade orgânica e espontânea, apresentando seu conteúdo, segundo o próprio compositor, “quase como um show ao vivo”. O mesmo pode ser dito das canções, diversas e instigantes. Trata-se, portanto, de um capítulo importante da carreira de Caetano Veloso.

“You Don’t Know Me” é tão bem construída quanto as canções do primeiro disco do exílio, mas soa diferente pelo arranjo vivaz e pulsante, além da bela superposição dos versos de “Saudosismo”, interpretada em contraponto por Gal Costa. O experimentalismo de “Triste Bahia”, escrita a partir de um poema de Gregório de Matos, é digno de nota, assim como a leitura perspicaz do samba “Mora na Filosofia”, de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos. Por outro lado, “Nine out of Ten” reclama para si o título de arauto do reggae em terras brasileiras, qualidade que, apesar da predileção do compositor por essa canção, não a torna uma obra-prima. Mudando a direção do disco, “It’s a Long Way” e “Neolithic Man” mostram o resultado de um trabalho minimalista, deveras interessante, apesar de não apresentar o amadurecimento de iniciativas posteriores. Antes do fim, o álbum registra, a título de acréscimo, a descontraída “That’s What Rock’n Roll is All About”, que, se não faz coro com as demais faixas, ao menos demonstra a habilidade do compositor em empregar não apenas a língua inglesa, mas também uma forma musical tipicamente anglófona: o 12-bar blues.

A sonoridade da banda já inicia o disco em seu ápice, pois “You Know Know Me” permite que os músicos – Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa – expressem de maneira ímpar a interação entre instrumentos, voz e composição. A mesma sensibilidade interpretativa pode ser percebida em “Mora na Filosofia”, um dos primeiros “transambas” realizados pelo compositor. Ademais, o ótimo trabalho experimental em “Triste Bahia” mostra uma terceira face da sonoridade de Transa, com violão e percussão evocando uma atmosfera ritualística e transcendental.

Em alguns aspectos, Transa significa o próximo passo após o lançamento referencial de 1971. Contudo, temos, aqui, um disco mais abrangente e pretensioso: além de ampliar seu inventário de canções, Caetano Veloso abre novas frentes de trabalho ao trazer, no conceito do álbum, o experimentalismo e o minimalismo. No entanto, esses últimos aspectos não apresentam, ainda, o amadurecimento e a consistência que teriam, por exemplo, em Jóia (1976). De qualquer forma, era preciso começar; e Transa cumpre muito bem esse papel.



Resenha Publicada em 31/05/2013





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