Por Valdir Junior
O Blues americano, original, do começo do século vinte, tem uma importância que vai muito alám do que servir de base para outros estilos como o Jazz e o Rock and Roll. Toda essa cultura do blues, com sua música, estórias, mitos, lendas, poesia, personagens e estilo de vida, influenciaram não só músicos, mas também, escritores, poetas, artistas plásticos, diretores e roteiristas de cinema e acadêmicos nas universidades. Uma dessas pessoas foi o cartunista Robert Crumb, artista muito influente no underground dos quadrinhos americano no inicio dos anos 1960 e em atividade até hoje.
Crump tem uma obra bem característica, dono de um traçado peculiar, onde o exagero resalta a sua aversão ao lado pudico e certinho da sociedade americana, em seus desenhos, Crumb traça um humor sarcástico, cínico, com um leve toque obsceno, todo seu inconformismo. Apaixonado por blues e jazz e um grande colecionador de discos antigo e profundo conhecedor da história do gênero, Crumb ilustrou capas de reedições de discos de blues e também fez capas para bandas, uma das mais famosas e a ilustração do disco “Cheap Thrills” de Janis Joplin, além de uma série de quadrinhos contando a vida de lendas do blues como Charley Patton e Jelly Roll Morton e outras estórias baseadas na mística do blues.
Em 2004 essas estórias de Crumb com o blues como tema foram compiladas no livro “R.Crumb Draws The Blues” lançado aqui no Brasil no mesmo ano pela editora Conrad com o singelo titulo de “Blues”. O livro traz, além das estórias em quadrinhos, todas em preto em branco, várias ilustrações de Crumb em cores. Destaco aqui a tirada de Crumb em cima de “Purple Haze” de Jimi Hendrix, uma verdadeira psicodelia em preto e branco e a estória “É a Vida” sobre um blueseiro esquecido. Todas elas com o já citado humor mordaz de Crumb.
Como o blues, o humor e o traçado de Robert Crumb não é para qualquer um, requer um pouco de boa vontade de leitor e é claro uma alta dose de bom humor e compartilhar e entender a visão de Crumb para os temas que podem ser polêmicos para alguns. Quem gosta de blues, se já não conhece o trabalho de Crumb, com certeza vai adorar essa edição de “Blues”, um livro intimamente ligado a música, que ilustra com maestria toda emoção e a história do blues. Obra indispensável na estante, de preferência para ser colocada ao lado dos discos de blues.